Sociedade

Líderes religiosos tornam público DECLARAÇÃO CONJUNTA de apelo à Paz e a tolerância religiosa

Na sequencia dos diversos casos de ataques contra os espaços de culto tradicional e de uma igreja evangélica, associadas a proliferação de discursos de ódios e de intolerância religiosa que vinham sendo disseminados por diferentes atores nacionais, os líderes das diferentes confissões religiosas da Guiné-Bissau, tonaram público hoje, uma Declaração Conjunta de Apelo à Paz e Tolerância Religiosa. Este importante documento assinado por representantes das comunidades Católica, Muçulmana, Evangélica e Religião Tradicional, repudia todos os atos de intolerância religiosa registados no país e apela a cessação imediata dos mesmos.

O documento. Para além de exortar as autoridades judiciárias no sentido de investigar e trazer à justiça os responsáveis dos atos de intolerância religiosa que tendem por em causa a paz e a coesão nacional, esta declaração pede aos guineenses para absterem de proferir, divulgar e disseminar discursos sectários e radicais, capazes de incentivar o ódio e a intolerância no país.

Este evento insere-se no âmbito da implementação da Agenda Comum para à Paz dos líderes religiosos, adoptada em 2022, no quadro do projeto Observatório da Paz –Nô Cudji Paz, uma iniciativa implementada pelo Instituto de Marquês Valle Flôr e pela Liga Guineense dos Direitos Humanos, financiado pela União Europeia e Cofinanciado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.

Para mais detalhes, vide a Declaração Conjunta na integra:

Declaração Conjunta dos Líderes Religiosos

Por uma Guiné-Bissau da Paz e Tolerância Religiosa

 Em nome de Deus, que criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade e os chamou a conviver entre si como irmãos, a povoar a terra e a espalhar sobre ela os valores do bem, da caridade e da paz. Este bondoso Deus abençoou a Guiné-Bissau com o multiculturalismo e a diversidade religiosa, cujo povo constitui um belo exemplo de tolerância e coexistência pacífica entre diferentes culturas e religiões. Aliás, a capacidade dos guineenses se entenderem e de coabitarem na diversidade remonta aos primórdios da existência dos povos que constituem o mosaico étnico e cultural da Guiné-Bissau e vem sendo preservada, de geração em geração, até ao período contemporâneo.

Contrariamente ao que se verifica noutras partes do mundo, pode-se afirmar com propriedade que, na Guiné-Bissau, a diversidade cultural e religiosa nunca constituiu uma ameaça para a coesão e a convivência pacifica dos seus povos, o que faz deste país um território pacífico, seguro e tolerante, apesar da instabilidade política e governamental ter periodicamente contributos para acentuar diferenças. Estes valores da paz e coesão social precisam de ser permanentemente cultivados, exaltados e disseminados para que possam continuar a constituir o denominador comum dos guineenses, venham donde vierem.

Aliás, a nossa sociedade é quotidianamente desafiada a fazer prova da sua resiliência perante as incessantes tentativas de perturbar a paz e a tranquilidade sociais, através da produção e difusão, nos últimos tempos, de discursos de ódio que, de alguma maneira, corroem a coesão nacional. Recentemente, desencadeou-se em Bissau uma triste e inédita campanha, sem rosto, de atear fogo nos lugares sagrados das religiões tradicionais, o que, em resposta, conduziu a violação, seguido de incendio, das portas da Igreja Evangélica de Mindara, sem nenhum motivo aparente que o justifique. Perante estes tristes episódios esporádicos de intolerância religiosa que se têm verificado na Guiné-Bissau, nós, os Líderes Religiosos das comunidades Evangélica, Muçulmana, Católica e da Religião Tradicional Africana do país:

Guiados pela missão comum de promover a paz social e a coesão nacional;

Preocupados com os sinais de radicalização e de intolerância religiosa no país, alimentados pelos discursos de ódio potencialmente segregacionistas;

Reconhecendo os riscos que estes fenómenos representam para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento;

Conscientes das expectativas dos cidadãos em relação à autoridade moral que a comunidade religiosa exerce na sociedade guineense;

Conscientes dos compromissos assumidos no âmbito da Agenda Comum Para a Paz dos Líderes Religiosos, no quadro do projeto Observatório da Paz – Nô Cudji Paz.

 

Adotamos a presente declaração de apelo à paz e tolerância religiosa, nos termos que se seguem:

  1. Repudiar todos os atos de intolerância religiosa no país e apelar à cessação imediata dos mesmos;
  2. Abster-se de proferir, divulgar ou disseminar discursos sectários e radicais, capazes de incentivar o ódio e a intolerância no seio dos guineenses;
  3. Exortar as autoridades competentes assegurar as condições de segurança a todos os cidadãos, designadamente para acesso aos seus locais de culto;
  4. Apelar as autoridades judiciárias, no sentido de investigar e trazer à justiça os responsáveis pelos atos de intolerância religiosa que tendem a pôr em causa a paz e a coesão nacional;
  5. Instar o povo da Guiné-Bissau a empenhar-se na preservação da paz e da unidade nacional, bem como no respeito pelos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, incluindo a liberdade religiosa;
  6. Eleger meios pacíficos e legais como a única forma de resolução das nossas diferenças, independentemente da sua natureza, visando sempre preservar a paz social e a coesão nacional.

Que todos nós, muçulmanos, católicos, evangélicos e seguidores da religião tradicional, nos unamos em oração diante do Deus, o Altíssimo Senhor, Criador do Céu e da Terra, com fé e persistência, pelo seu povo, pelos governantes e pela PAZ. Que Deus Todo-Poderoso e cheio de Misericórdia nos ajude a transformar as nossas mentes e os nossos corações, volte para nós o Seu rosto e abençoe a Guiné-Bissau.

Pela Paz, tolerância e solidariedade

 

Feito em Bissau aos 21 dias do mês de março de 2024

 

OS LÍDERES RELIGIOSOS:

 

União de Imames           Conselho Nacional Islâmico          Diocese de Bissau e Bafatá

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  1. N. das Igrejas Evangélicas da G. Bissau               Religião tradicional Africana

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