Sociedade

Guiné-Bissau: Líder muçulmano denuncia perseguições e interferências políticas nos assuntos religiosos

O Presidente da Associação dos Pais, Mestres Corânicos, Professores e Imames e do Conselho Fiscal da União Nacional dos Imames, Mussa Quebe, denunciou “a perseguição que é alvo por parte das autoridades públicas da Guiné-Bissau” por ter oferecido alcorão ao Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC.
Na missiva endereçada as Nações Unidas, a União Africana e outras entidades nacionais e internacionais, a qual E-Global teve acesso, o líder muçulmano justifica os motivos da alegada perseguição. “(…) no cumprimento dessa missão, no mês de junho de 2022, ofereci um Alcorão ao cidadão, Professor Doutor Domingos Simões Pereira, num simples gesto que se circunscreve nos mandatos das organizações a que dirijo e, enquanto imame, é minha obrigação difundir a palavra de Deus para todos, independentemente da religião do destinatário da mensagem”, descreveu Mussa Quebe na carta com a data de 14 de maio do ano corrente.
De acordo com o líder religioso, “alguma entidade, não gostou do gesto, por considerar que não podia ter oferecido um alcorão a um “infiel e muito menos ao adversário político dessa entidade, tendo telefonado e coagido um dos dirigentes da União Nacional dos Imames da GuinéBissau para me demitir das funções do Presidente do Conselho Fiscal, e suspender-me da condição de sócio”, escreveu.
Na mesma carta, Mussa Quebe disse ter sido alvo da tentativa de repressão numa reunião na Misquita de Plack-II por um grupo que chama de “milícia”. “Como se tudo não bastasse, no dia 29/04/2023, estive reunido com os membros da Associação de Pais, Mestres Corânicos, Professores e Imames na mesquita de Plack-ll para debatermos assuntos da vida corrente da organização, quando fomos alertados que devíamos dispersar, porque, alguém ordenou o envio de ‘milícias’ armados para espancar os presentes na reunião, alegando que, segundo consta, aquela reunião tinha como único propósito fazer orações para rogar praga e amaldiçoar o Presidente da República”, explicou Quebe, frisando, por outro lado, que “essa [ situação] criou pânico generalizado no grupo que se encontrava reunido, sendo que, até hoje, ninguém ousou participar das reuniões agendadas, com receio de que os ‘milícias’ possam invadir a mesquita e espancar os fieis”.
O líder muçulmano lembra que “as interferências políticas no exercício de culto religioso não são permitidas pela nossa Constituição da República”, mas denúncia que “no atual panorama político, marcado por atropelos aos direitos fundamentais dos cidadãos, temos assistido interferências em assuntos de natureza religiosa, utilizando vários expedientes, desde coações, intimidações até espancamentos nos locais de culto”.
“(…) Tomei a liberdade de levar ao vosso conhecimento [ONU], que tenho sério receio pela minha segurança e da minha família, devido as perseguições de que tenho sido alvo por parte das autoridades públicas, deixando, desde logo, o aviso de que, se alguma coisa me venha acontecer, os únicos responsáveis serão o Estado da Guiné-Bissau e o seu Chefe”, concluiu.

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