Economia

Sector Privado guineense descapitalizado e sem perspectiva de relançamento

O sector privado guineense está de rastos. As ameaças dos operadores económicos estrangeiros ao longo dos anos ao mercado nacional, está paulatinamente a consolidar-se. Neste momento, os dados da CCIAS e da Câmara de Comércio (CdC) revelam que, nos 10 maiores importadores e exportadores de actualidade na Guiné-Bissau, não está nenhum empresário nacional. O arroz, neste momento, é importado por estrangeiros. Os estrangeiros, não só dominam, como entraram e estão igualmente a controlar o sector produtivo, sobretudo o mercado da castanha de caju. Brevemente, comentou timidamente Fernando Jorge Gomes, presidente da CdC “serão funcionários” de todos eles. Masmasdú Saliu Bá, secretário-geral da CCIAS, acha que, a falta de garantia dos nacionais nos bancos, está a facilitar o crescimento dos estrangeiros, mas adiciona outro factor: a solidariedade. Disse que, os operadores económicos estrangeiros solidarizam-se na importação, enquanto que nacionais, querem sempre avançar sozinhos. “Qual é o empresário nacional capaz de trazer um barco de 10 toneladas sozinho”, questionou em jeito de críticas àquilo quer chama de “falta de visão do empresariado nacional”. As exportações da castanha de caju da Guiné-Bissau representam mais de 90% do total das exportações nacionais, sendo inegavelmente o pilar da economia nacional. Actualmente, mais de 95% da castanha de caju exportada pela Guiné-Bissau tem destino à Índia.

O Governo por sua vez exige uma Confederação das Câmaras de Comércio de modo a ter uma estrutura com a qual pode estabelecer um diálogo e inventariar as possibilidades de apoio, mas no sector Privado, o consenso parece impossível. Na falta de tudo isso, as associações passaram a tratar com as câmaras na quais afiliaram, mas mesmo assim, os problemas persistem.

O problema é de longa data, mas nos últimos tempos ganhou proporções maiores e bastante graves, por causa de duas razões. A primeira tem a ver com a organização do sector empresarial nacional liderada pela CCIAS. A situação piorou nos últimos tempos devido ao conflito que surgiu na organização e que teria provocado a suspensão do presidente, Mama Samba Embaló. Inicialmente o presidente eleito para um período de de cinco anos, recusou acatar a ordem de suspensão por considerar de “incompetentes os seus autores” e com isso, instalou a polémica, mas posteriormente cedeu. Neste momento, Bacar Baldé, um dos vices-presidentes da Direcção eleita no ano passado é que erstá a frente da organização, mas os problemas persistem. Certo é que, Mama Samba Embaló avançou para a justiça e espera pacientemente a resolução do diferendo que o opôs com o Conselho Directivo que deliberou a ‘incompetentemente a sua suspensão’, interrompendo-lhe temporariamente um mandato iniciado em 2024 e que deve durar cinco anos.

“Mas para além desse aspecto, não menos importante, o problema está na falença dos empresários nacionais. Temos que reconhecer que os empresários nacionais não têm dinheiro e o Estado guineense parece não perceber isso. É grave, porque está a reflectir em todos os sectores da vida económica nacional”, disse Fernando Jorge.

Segundo dele, quem não tirou tempo para reflectir a volta da situação, não consegue imaginar o risco e a gravidade das futuras consequências. “Nós que estamos no sector sabemos do perigo e as medidas preventivas que urgem tomar. Os estrangeiros dominaram o sector e neste momento criaram uma associação. Sabem como é que esta associação funciona? Financiam uns aos outros. Portanto, enquanto nacionais, devemos começar a reflectir no perigo que isso constitui”.

Saliu Bá, Secretário-geral da CCIAS até concorda com o problema, mas atira para a atenção de todos a falta de união dos empresários guineenses. “Todos sabem que os empresários nacionais não têm dinheiro. Isso é consensual, porque não dispõem de garantias bancárias. Os empresários estrangeiros residentes no país, têm dinheioro e têm garantia. Mas, mesmo com tudo isso, ainda fazem aquilo que nacionais Não fazem. Por exemplo, eles se juntam para trazer um barco para o país. Os nacionais, não. Assim, torna-se impossível”, disse.

Em 2024, os operadores económicos nacionais endereçaram uma carta ao Governo e ao Presiodente da República a alertar sobre os perigos dessa situação. Não houve qualquer reacção e os sinais a seguir reveleram-se extremamente preocupantes. Fernando Jorge, alerta sobre a atipicidade de certas cioisas que aconteceram. “No final do ano 2024, quandpo houve aquela ameaça de subida de arroz, o que é que aconteceu? Charam os empresários estrangeiros na Primatura para negociar. É um perigo enorme e deve ser evitado”, disse.

No sector da castanha de caju, os dados revelam-se assustadores. Por exemplo, para além da conhecida presença dos empresários indianos, o fenómeno dos mauritanianos, está a constituir outro perigo. Dizem os dados dos serviços de Emigração e frionteiras que, em 2015, entraram para o país em período de campanha de castanha de caju, cerca de seis mil mauritanianos e vão directamente para o terreno.

Em 2024, os dados da Associação dos mauritanianos consultados pelos operadores económicos nacionais revelaram que, em período homologo, entraram para o país cerca de 5 mil mauritanianos. Uma das primeiras consequências dessa situação é a morte dos intermediários. “Se levarmos em considerração que, a problemática da campanha de caju é uma cadeia, porque razão se dá ao luxo de matar uma das estruturas mais importantes”, questionou.

Na questão da produção da castanha de caju, o problema não se resume apenas nos intermediários. Dados avançados pelos nossos interlocutores falam de entrada das mulheres de Guinée-Conacri, através das suas associações na recolha e tratarmento da castanha.

“Penso que todos já sabiam que os homens organizam para limpar as hortas! Hoje, as mulheres é que recolhem caju nas hortas. Portanto, o tecido produtivo nacional, sem qualquer intenção de discriminação, está invadido pelos estrangeiros. Isso não é bom para o empresariado nacional, neste momento, mas posteriormente não será bom para o próprio Estado. São necessárias medidas urgengtes para se poder fazer face a esta situação”, disse Fernando Jorge.

 

Intermediários estão a sofrer

Falando dos intermediários, lassana Sambú, Presidente da Associação dos Intermediários, garante que a legislação existente para o sector definiu perfeitamente como deve funcionar a cadeia, mas infelizmente nada é respeitado. Ele ciota o diploma que regula a profissão de intermediário e diz que no seu nº 1, está explicitamente escrito que, Intermediação de posto deve ser ocupada por um nacional, através da apresentação do seu bilhete de identidade. “O diploma vai mais longe e refere que, em caso de dúvida sobre a peça de identificação, deve ser o Ministério do Comércio a assumir a responsabilidade de averiguar essa peça. Porquê? Para evitar a compra de documentos. Infelizmente quem viola primeiro essa lei, é o próprio Ministério. Neste momento, estão a dar licenças a estrangeiros para entrarem e comprarem a castanha localmente”, revelou.

Conforme Lassana sambú, os intermediários nacionais estão a sofrer, porque o Governo não ajuda no cumprimento da lei. Para a segunda categoria de intermediário, reforçou, o interessado deve apresentar o bilhete de identidade e cartão de estrangeiro. “Nada é respeitado novazmente. Vão ao terreno directamente. Fazem compras com o dinheiro que não passou pelo circuíto bancário e tudo o que ganham, levam para os seus países e não rende nada a Guiné-Bissau. Isso é que devia ser evitado, mas infelizmente, o Governo parece não estar a ver”.

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