A Assembleia do Povo Unido, Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB) liderado pelo actual Primeiro-ministro, está a beira de um congresso extraordinário para legitimar os seus órgãos. Criado há cerca de quatro anos, a direcção outrora composta por sete elementos, ficou apenas com um, neste caso, o Presidente Nuno Nabian. Os restantes membros da Direcção, cinco vices e um Secretário-geral, foram suspensos das suas funções numa reunião do Conselho Nacional do Partido realizado no último fim de semana, em Bissau. Concomitantemente o mesmo órgão do partido suspendeu quatro dos cinco dos seus deputados, incluindo o seu líder de bancada, Marciano Indi. O fundamento para ambas as decisões é desobediência aos princípios do partido. Como forma de colmatar essas lacunas, o partido deverá convocar para breve, uma reunião do Conselho Nacional para debruçar sobre a possibilidade de um Congresso extraordinário.
A polémica na APU-PDGB iniciou logo na segunda volta das presidenciais de 2019, quando, a título unilateral, o presidente Nuno Nabian viajou com Umaro Sissoco Embaló para o Senegal, onde declarou, em nome do partido, seu apoio a este para a segunda volta. Os restantes dirigentes, agora suspensos e com confiança política retirada, opuseram a iniciativa do presidente alegando não terem sido consultados os órgãos do partido. Outro fundamento para se opor a decisão do presidente, é o acordo de incidência parlamentar que APU dispunha com o PAIGC e que permitiu ao partido integrar o então Governo liderado por Aristides Gomes, dispondo de cinco pastas.
De regresso a Bissau e depois de ter acertado com o candidato Umaro Sissoco Embaló apoio na segunda volta, Nuno Nabian musculou e desafiou a todos os dirigentes descontentes com a sua decisão para que cada um apoiasse quem quisesse.
Pode-se dizer que, o desafio foi aceite, porque a maioria dos dirigentes hoje suspensos apoiaram a candidatura de Domingos Simões Pereira, actual presidente do PAIGC, declarado derrotado pela Comissão Nacional de Eleições.
A partir de então, os dirigentes jamais se entenderam. Umaro Sissoco, ao ser investido por Nuno Nabian, a primeira decisão que tomou foi derrubar Governo de Aristides Gomes, nomear Nuno Nabian PM e os agora ex-dirigentes na altura ministros da APU no Governo, foram todos afastados e agudizou a polémica. Um ano depois, reuniu-se o primeiro Conselho Nacional do Partido, mas os resultados não foram suficientes para ultrapassar a crise interna.
Deputados fiéis ao PAIGC
Entretanto a retirada de confiança política a quatro deputados, deve-se ao facto dos mesmos continuarem fiéis ao acordo alcançado com o PAIGC em Março de 2019. O referido acordo parlamentar e governativo foi o que catapultou Nuno Nabian para o cargo de vice-presidente da ANP, estatuto que usou em 2020 para conferir posse a Umaro Sissoco Embaló, depois do presidente ter denunciado irregularidades nos resultados e nos procedimentos da investidura.
Desde essa altura, os altos dirigentes da APU e deputados no parlamento sempre se posicionaram ao lado do PAIGC nas votações. Com a decisão agora tomada, muitas dúvidas ficarão ainda mais dissipadas.
Mamadú Saliuu Lamba, primeiro vice-presidente eleito no Congresso, está próximo ao PTG liderado por Botche Candé. Com ele, também faz parte dessa formação política, a terceira vice-presidente, Fatumata Djau Baldé. O Secretário-geral, Juliano Fernandes, foi dos primeiros a dar sinais de abandonar o partido e já criou um denominado COLIDE. O mesmo se pode dizer com a quarta-vice-presidente, Joana Cobdé Nhanca, a irmã mais nova de Koumba Yalá, neste momento dividida na possibilidade de criar um partido ou integrar o PAIGC. Batista Té, 5º vice-presidente da APU, para além de renunciar publicamente a militância na APU, já declarou o seu regresso ao PAIGC.
Dentre os suspensos e retirados confiança, quem ainda não tinha uma posição concreta e que acreditava na reconciliação, é o 2º vice, Armando Mango. Neste momento está no dilema de fazer outras opções que não seja o PAIGC, uma vez que, no Governo que a APU integrou no âmbito do Acordo, era ele o ministro da Presidência do Conselho de Ministros. Quando Nuno Nabian assumiu às funções de PM, o PAIGC apresentou o seu nome em duas sessões parlamentares para que assumisse as funções de 1º vice da ANP. Aliás, Mango já havia sido empossado como presidente da ANP, quando Cipriano Cassamá aceitou as funções de presidente interino, considerando que entrega de Palácio a Umaro Sissoco Embaló, por parte de José Mário Vaz, tratava.se de uma renúncia, pelo que o presidente da ANP podia assumir as funções de Chefe de Estado.