Política

Visando segundo mandato Sissoco Embaló tenta reaproximar-se de ex-apoiantes

Com o aproximar do fim do mandato presidencial, limitado a cinco anos e que termina a 27 de Fevereiro, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, discretamente avançado como uma subtil pré-campanha eleitoral.

Em público o chefe de Estado diz que o seu mandato só termina em Setembro e que as eleições terão de acontecer em Outubro e Novembro, mas, na prática, as suas acções políticas expõem sinais da preparação de eleições a curto prazo.

A oposição política considera que o mandato termina a 27 de Fevereiro, pelo que o escrutínio já deveria ter sido agendado desde 2024, uma posição partilhada pela CEDEAO que na sua última Cimeira, que teve lugar na Nigéria em Dezembro 2024, apelou ao diálogo para um consenso que leve à marcação das eleições legislativas e presidenciais. Foram estas posições que levaram o Presidente da República a arrancar numa discreta, mas ruidosa pré-campanha eleitoral, embora tenha negado dinâmica aos seus adversários, principalmente Domingos Simões Pereira, que está impedido de levar a cabo qualquer actividade política em público.

Em 2024, Sissoco Embaló inaugurou, pelo menos, quatro sedes de campanha de apoiantes que defendem o segundo mandato, iniciativas que não passaram despercebidas nos discursos dos seus apoiantes. Na governação, o Governo de Iniciativa Presidencial que surgiu após a insólita dissolução da ANP e consequente queda do Governo, que tinha apenas três meses, o Presidente entrou em modo de preparação eleitoral. Estes sinais expostos com o lançamento de várias obras, apesar das mesmas avançarem com custo.

Tal é o exemplo de Biombo e em Gabú, regiões onde recentemente foram lançadas obras de construção de estradas, o ponto comum em ambas regiões é que desde o lançamento não há evolução dos trabalhos. A justificar a letargia são avançados argumentos que incidem na falta financiamento dos trabalhos, agravado pelo Governo não dispor de um orçamento para este efeito ou disponibilidade financeira para prosseguir com as referidas estradas. Situação que contrasta com o aparatoso lançamento das obras, e os presentes testemunharam a promessa presidencial de que as estradas serão construídas e que haverá ainda mais obras.

A par destas acções, onde de se confunde a propaganda com a política, no meio rural, orientadas para as massas populares menos críticas, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, tem multiplicado esforços para recuperar a máquina eleitoral de 2019, com a qual provocara uma ruptura à imagem dos principais partidos que apoiaram a sua eleição na segunda volta de 2019, nomeadamente o Movimento para a Alternância Democrática (MADEM), Partido da Renovação Social (PRS) e Aliança Povo Unido (APU-PDGB), dos quais Umaro Sissoco Embaló se divorciou e insultou os seus dirigentes.

O PRS e o MADEM foram os mais visados, nas divisões internas em que as alas rebeldes acabaram por ser as preferidas, e reconhecidas, pelo Presidente da República, contra as principais figuras desses partidos que o apoiaram em 2019. Figuras como Nuno Nabian, Fernando Dias e Braima Camará que ainda garante que a reconciliação é impossível.

Braima Camará, Coordenador do MADEM insiste em lembrar que foi quem apresentou Sissoco Embaló a José Mário Vaz para que este o nomeasse Primeiro-ministro. Sentindo-se traído com a atitude do Chefe de Estado, Braima Camará jurou aos seus próximos jamais apoiar Sissoco Embaló. Uma situação continua a agravar, quando Sissoco Embaló prossegue com a acção de enfraquecer os alicerces de Camará através da integração dos seus fiéis na sua legião política. A apoiar a ofensiva, alguns dos próximos do Presidente, como José Carlos Macedo e Sandji Fati, não poupam nos ataques contra Braima Camará.

Na sequência deste posicionamento, vários dirigentes do MADEM próximos de Braima Camará foram afastados do Governo, tal foi o caso de Fidélis Forbs, Cipriano Mendes Pereira, entre outros. Para acentuar a fidelidade aos seus dirigentes, Braima Camará prometeu regressar ao país para morrer junto dos seus camaradas políticos.

No regresso de Braima Camará, o Sissoco Embaló arrancou com acções de bons ofícios, não apenas com o coordenador do MADEM, mas também junto de Nuno Nabian e Fernando Dias. Uma operação em que conseguiu reunir com a ala radical do PRS em que um dos primeiros resultados que obteve foi fazer calar as vozes críticas do partido à ala liderada por Fernando Dias. Nos corredores dizem que no encontro ocorrido antes do final do ano, Umaro Sissoco Embaló prometera criar condições para que o partido organize um Congresso para presente crise interna.

As acções prosseguem, mas o desfecho é uma incógnita, porque as exigências são várias. Da parte de Braima Camará, existe apenas uma condição para começar ponderar numa eventual reconciliação com Umaro Sissoco Embaló: a devolução do partido cujo Supremo Tribunal de Justiça anotou e considera Satu Camará é a líder. Uma exigência que poderá ser acolhida favoravelmente pelo Presidente da República, na condição deter garantia do regresso de Braima Camará à sua esfera de apoios.

No PRS, as investidas do Presidente têm apresentado mais resultados concretos. A liderança da ala de Fernando Dias, não apresenta qualquer solidez e quase já cederam. Sissoco Embaló reuniu com uma das alas e prometeu utilizar a sua influência para a realização de um Congresso que possa apaziguar o prevalecente conflito entre duas alas, que Umaro Sissoco Embaló reconhece apenas a ala de Felix Nandunguê.

 

Remodelação governamental: O último trunfo de Sissoco

Num país onde exercer as funções governamentais constitui uma prioridade da maioria na classe política, as barreiras do Presidente da República na recuperação dos seus aliados têm sido quebradas com a atribuição de cargos no aparelho do Estado.

Por exemplo, conseguiu incorporar dois elementos outrora fiéis a Braima Camará, José Carlos Macedo e Henri Mané que respectivamente assumiram funções de secretário de Estado da Ordem Pública e de ministro da Educação. Outros dirigentes políticos não se juntaram a Braima Camará para salvaguardarem os seus cargos no aparelho do Estado.

Com a pressão latente para a realização das eleições e num momento em que se comenta de uma remodelação governamental, a possibilidade de mudar a posição dos partidos é cada vez evidente.

Recentemente circulou o rumor da possibilidade de Nuno Nabian ser renomeado, primeiro-ministro, mas ideia não avançou porque, o antigo Chefe do Governo teve que sair do país.

Surgiu depois uma proposta designada Governo de Transição. A ideia considerada positiva pela Coligação PAI Terra Ranka, através do seu Coordenador, Domingos Simões Pereira, está a ser considerada como mais um trunfo.

No PRS, ala de Fernando Dias, já parcialmente aderiu e suspendeu todas as críticas enquanto espera pela remodelação governamental. A ala do MADEM de Braima Camará foi ignorada, tendo em conta que o Presidente da República ainda não os reconhece.

Resta a Coligação PAI Terra Ranka que, uma importante camada dos seus militante insiste em ficar de fora de um Governo de Transição. Mas estes são também elementos, inexpectáveis, que o Sissoco Embaló poderá utilizar para garantir apoios para o segundo mandato, mas sobretudo acabar com a crise entre ele e os seus ex-aliados.

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