A terceira vice-presidente da Assembleia do Povo Unido, Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), liderado pelo actual Primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabian, entregou dia 1 de Julho a carta de demissão nas funções e consequente renúncia de militância naquela formação política. Como motivo, a Joana Cobdé Nhanca invocou na carta, a falta de motivação para continuar num partido que “perdeu todas as ideologias que nortearam a sua criação” e de ser liderado por “uma figura que não mostra qualquer interesse em reconciliar a dividida família apuana”. O mais grave, para ela, é que, todas as tentativas dos outros dirigentes da APU para o entendimento no partido, não tem sido acompanhado pelo presidente, que praticamente recusou a convocação dos órgãos de forma a resolver eventuais diferendos entre os militantes profundamente divididos nas últimas eleições presidenciais.
Em declarações ao Jornal Última Hora, Joana Cobdé disse já não dispor de condições motivacionais para continuar naquela formação política, porque os ideais que nortearam a sua criação estão a serem desnorteados de forma grave pelo seu próprio presidente. “Demos o tempo necessário para a solução dos problemas internos ocorridos no período eleitoral, mas lamentavelmente ficou provado a falta de interesse do presidente. Como todos devem lembrar, todos nós fizemos as nossas opções na segunda volta das presidenciais de 2019, incluindo ele, que decidiu dar o seu apoio a um candidato, sem ouvir o partido. Deu liberdade de opção e optámos. Face à isto e depois de tudo, esperávamos que o partido iria reunir para debater este assunto e reconciliar, mas infelizmente isso não aconteceu”, lamentou a terceira vice-presidente.
Joana Cobdé voltou a reafirmar que não acompanha às posições assumidas por Nuno Nabian, actual Primeiro-ministro, sobretudo depois das eleições presidenciais, quando deixa o partido a caminhar para as ruas do abismo. “Quem analisa o comportamento do presidente da APU, conclui de imediato que, não está arrependido daquilo que fez. Não é apenas por apoiar, mas sim por avançar para o apoio sem contar com o partido. Também fizemos as nossas opções. Mas a postura correcta seria reconciliar o partido depois de tudo isso. E na minha opinião, o primeiro passo deve ser dado pelo presidente. Mas se ele se sente confortado com a actual situação de desorientação total no partido, eu não posso alinhar. APU tem outros compromissos com o Povo e não aquilo que o presidente está a fazer”, disse Joana Cobdé horas antes de entregar a carta de demissão e consequentemente renúncia de militância.
Segundo Cobdé Nhanca, irmã do ex-presidente do PRS e da República, Koumba Yalá, as demais partes, sobretudo os altos dirigentes do partido, fizeram o necessário para que a crise intyerna não instalasse, mas infelizmente, o presidente Nuno Nabian nunca quis. “Subscrevi duas cartas que um dos vices fez para a convocação dos órgãos, mas nunca o presidente aceitou. Quando o partido depara com os problemas que todos sabemos, a maior preocupação devia ser do presidente. Mas tudo virou o contrário. Ele acha que nessa desorganização, o partido está melhor. Não está. E sabe disso”, frisou.
E falando da ideologia que norteou a criação do PRS, Joana Cobdé Nhanca acha que tudo está acabado. O partido deixou de ser a terceira via que muitos viam nele e o seu presidente, adoptando “uma postura irreconhecível acabou por deitar tudo por terra”.
Joana Cobdé deixa o APU, mas não deixará de fazer a política. Qual será o seu futuro político, foi a questão que o Jornal Última Hora colocou a demissionária terceira vice-presidente da APU. A resposta foi categórica e evidente.
“Na APU, como todos podem escrever, não vou continuar. Brevemente o país conhecerá o meu futuro político. Militar em alguma formação política é uma possibilidade, mas não está descartada a possibilidade de criar o meu próprio partido político”, admitiu a ex-militante do PRS, partido fundado pelo irmão,. Mas do qual afastou desde morte deste em 2014.
O regresso ao PRS não faz parte da agenda, até porque Joana Cobdé faz parte do grupo que suspeita de envolvimento de alguns dirigentes daquele partido na morte do irmão, pelo que o cenário mais provável é militar no PAIGC, em último caso, avançar com a criação de um partido.
Sabino Santos