sábado, junho 14, 2025
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Bissau: “Fomos submetidos a duas sessões de tortura”

No domingo, a cidade de Bissau amanheceu sitiada por um forte aparato policial. A manifestação convocada pelas plataformas Pô di Terra e Frente Popular, em defesa da reposição da ordem democrática na Guiné-Bissau, foi sufocada antes de sair às ruas. Quatro ativistas foram detidos. Em entrevista à DW, Jonatas Nanque, porta-voz do movimento Pô di Terra e um dos ativistas detidos, confirma que “foi submetido a sessões de tortura”.

“A instituição responsável por garantir a segurança dos cidadãos está traduzida num espaço de tortura contra as vozes que se levantam contra o regime”, denunciou. Jonatas Nanque assume que chegou a temer pela sua vida, mas garante que a situação “reforçou o seu comprometimento com a causa”. Para ele, “é hora dos jovens assumirem a responsabilidade para salvaguardar o país”. Contactada pela DW, a polícia confirmou a detenção para investigação e libertação dos quatro ativistas, mas disse que não tem informações sobre casos de tortura, como foi denunciado.

 

DW África: Em que condições se encontrava durante a detenção, e como descreve o tratamento recebido por parte das autoridades?

Jonatan Nanque (JN): Não sei se existe um termo ou adjetivo para explicar a situação a que fomos submetidos. Fiquei muito triste e também preocupado porque a instituição responsável por garantir a segurança dos cidadãos está traduzida num espaço de tortura contras as vozes que se levantam contra o regime. Só para ter uma ideia, fomos submetidos a duas sessões de tortura. A primeira sessão, [ocorrida] minutos depois da nossa chegada, foi uma sessão em grupo. Nós os quatro fomos submetidos a brutalidade com toda a carga policial. Depois fomos levados para uma outra sala, aí já a uma tortura individual. E só para realçar que, nesse grupo, estava uma menina de 25 anos, uma menina que também foi submetida à mesma condição que nós.

Em certo momento, compreendi que aquele tratamento não tem nada a ver com o sermos manifestantes, mas é uma clara ação política para silenciar as vozes críticas ao regime.

DW África: Houve algum momento em que temeu pela sua vida ou integridade física?

JN: Para ser honesto, chegou um momento em que comecei a temer pela minha vida, porque, de facto, o medo faz parte da natureza do Homem. No entanto, a situação a que fomos expostos reforçou o meu comprometimento com a causa.

 

DW África: Houve alguma tentativa de diálogo por parte das forças de segurança?

JN: Não houve nenhuma tentativa de diálogo. O comportamento do agente da polícia mostrou claramente que teve uma ordem clara de capturar e neutralizar.

DW África: A manifestação de 25 de maio foi impedida pela polícia antes mesmo de começar. Há uma geração disposta a lutar por mudanças estruturais no país?

JN: É importante compreender que a dificuldade que a sociedade civil vem tendo na mobilização tem a ver com a falta de consciencialização dos cidadãos, porque para conseguir qualquer resultado no que tem a ver com a revolução, o primeiro passo é a revolução da própria consciência.

É importante que nós, principalmente jovens, académicos, assumamos as nossas responsabilidades. Porque temos um papel muito importante na salvação da democracia e instalação do Estado de Direito democrático no nosso país. De certa forma, somos todos convidados, porque é o nosso papel defender o nosso Estado.

É por isso que a Frente Popular e as demais organizações assumiram esse slogan “República e a nós”, ou seja, nós somos a República. É importante que assumamos as nossas responsabilidades para lutar, para salvaguardar os princípios em que assenta o nosso Estado.

Nós entendemos que, em cada período histórico, cada geração é chamada para assumir a sua responsabilidade. Estamos sendo chamados. É hora de nós, jovens, assumirmos a nossa responsabilidade para salvaguardar o nosso país.

 

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