Artigo de Opinião

A CEDEAO e os caminhos do abismo!

Confesso que não tenho a memória do período que o fiz (presumo que foi há dois anos) que escrevi sobre o perigo que às fragilidades das actuais lideranças dos países membros da CEDAO podia causar a organização. Alertei na altura que, quando se tem no tráfico de influência, estratégia única para a gestão de uma organização da dimensão da CEDEAO, tarde ou cedo, os problemas iriam aparecer.

Os problemas na CEDEAO começaram com a mudança de geração de presidentes. As visões de Diouf, Rawlings, Dawda Kairaba, Nino Vieira, Houphouet Boigny ou Lansana Conté, não têm nada a ver com os actuais Chefes de Estado. Custará muitos ouvir isso, mas é verdade. E, a organização continuou a falhar quando, num claro erro estratégico, abandonou os objectivos do tratado constituinte e de seguida a componente coerciva (ECOMG) supostamente por falta de meios. E agravou, quando um grupo de presidentes recentemente quis adoptar a resolução dos problemas “fora dos canais legais”, como uma norma.

Dos actuais líderes da CEDEAO, ninguém fala ‘sentidamente’ do Protocolo de Democracia e de Boa Governação. Aliás, usam militares e polícias antagonicamente fora das orientações dadas no Protocolo. Porque, o Protocolo no nº1 do artº22, estampa: “O uso de armas para dispersar encontros não violentos ou demonstrações deve ser proibido. Sempre que uma demonstração se torne violenta, apenas deve ser autorizado o uso da força mínima e/ou proporcional”, fim da citação.

No mesmo artigo, o nº 2 remata: “Qualquer tratamento cruel, desumano e degradante deve ser proibido”. A realidade dos países da CEDEAO neste momento é manifestamente contrária a esta. Os dirigentes actuais da CEDEAO usam as armas, não só contra os seus adversários políticos, mas também o fazem contra os cidadãos indefesos. Este andar da carruagem, embora produtiva momentaneamente, não é eficiente e muito menos durável, porque não é legal, nem democrático. Foi assim que a organização agravou a sua decadência.

Seguiu a instabilidade e a mutação dos posicionamentos dos dirigentes actuais. A Guiné-Bissau foi, um dos países que contribuiu mais para fragilizar a organização em termos de coerência e firmeza nas decisões, porque a polémica que se viveu de 2015 a esta parte, fez com que a CEDEAO perdesse total credibilidade face aos cidadãos dos Estados membros. As directivas dos Ministros e as deliberações dos Chefes de Estado nas despesistas cimeiras e conferências eram letras mortas, porque não são implementadas ou cumpridas.

O Acordo de Conacri foi um exemplo disso. A ONU investiu muito dinheiro para colocar as partes beligerantes na mesma mesa, mas a CEDEAO não foi capaz de ser coerente para tomar uma decisão, para antes de tudo, confirmar pelo menos quem escolheu para ser Primeiro-ministro. Se era Umaro Sissoco Embaló; ou se era Augusto Olivais ou se tratava de uma outra figura. Era início do fim da organização, uma vez que a sucessão de erros já ultrapassava a contenção e também estava demasiadamente evidente, tentativa de apadrinhamento e o trafico de influência (corrupção moral, diz-se por outras palavras).

Nos outros países em que as reivindicações políticas eram mais questões de fundo, recursos naturais ou posicionamentos geoestratégicos, as posições da CEDEAO eram praticamente ausentes. Por exemplo no Senegal, não conheço uima posição pública da organização na polémica entre o residente Macky e o líder da “forçosa e ilegalmente” dissolvida Pastef.

As polémicas, como as que se viveram no Senegal, na Guiné-Bussau e no Níger, nomeadamente afrontas aos opositores políticos, agravam quando, a CEDEAO não vigia o respeito das regras de disputas democráticas, que neste caso interessam mais aos políticos, ou as de boa governação que devem resolver os problemas dos cidadãos. Do fim ao cabo, tem se problemas políticos e problemas sociais.

Em consequência disso, a organização está na eminência de uma derrocada enfrentado problemas com 3 das suas seis potências. Poque quando o Mali, rico em recursos naturais, segundo mais vasto em termos territoriais e um dos mais populosos da comunidade; quando a Guiné-Conacri, um dos mais ricos em termos minerais e com representação étnica e diplomática mais activa na comunidade; quando o Burquina Faso, a segunda capital da Uemoa; ou quando Níger, representante árabe na comunidade declaram “guerra militar” a organização, é porque a CEDEAO precisa fazer de tripas e corações para não cair numa derrocada total. Ambos os países estão a serem dirigidos há dois anos por regimes militares (com excepção) do Níger, o que significa que têm algum estabilidade e certos canais diplomáticos para concretizar as ameaças que fazem. Cuidem!

Related Posts