Cultura

Guiné-Bissau: Todos diferentes, “uma única nação”

Com mais de duas dezenas de etnias, a separação e conflitos étnicos religiosos preocupam o país. Já corre um debate nacional e surgem “frentes de combate” contra o fenómeno, que pode ameaçar a existência da Guiné-Bissau enquanto Estado.

Foi a partir de 2019, nas campanhas eleitorais para as legislativas e presidenciais, que os apelos começaram a intensificar-se. Muitas vezes, levaram a acusações mútuas entre os dirigentes políticos sobre quem estava contra ou a favor de uma determinada etnia e religião.

Mas agora, depois do rapto e espancamento, no dia 22 de maio, por desconhecidos, do deputado e líder do grupo parlamentar da Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), surgiram vários apelos nas redes sociais, de cidadãos anónimos e identificados, a uma revolta da etnia papel, a que pertence o deputado – uma atitude repudiada pela sociedade.

O coordenador do recém-criado Movimento Cívico Guineense de Luta Contra Tribalismo e Fundamentalismo Religioso, Hélder Té, aponta o dedo acusador à classe política guineense: “Nós dissemos isso muito claramente, em geral é a classe política, e o mais preocupante são os seus apoiantes que enviam essas mensagens, que não ajudam na unidade do país.”

Hélder Té afirma ainda que a Constituição guineense não deixa margem para dúvidas. “O que a nossa lei magna diz é que ninguém pode criar um movimento ou uma organização na base do tribalismo, religião ou regionalismo”, refere o responsável em entrevista à DW África.

 

Contra a divisão, pela unidade nacional

O analista político Rui Landim alerta para as consequências “imprevisíveis e desastrosas” caso haja uma ruptura entre as etnias da Guiné-Bissau, “sobretudo, para a construção de um Estado, de um país, para não dizer a construção da nação.”

“Com isso, começa-se a semear ódio, e, no fim, os próprios promotores e apologistas perdem o controlo. Foi o que aconteceu no Ruanda.”

A multietnicidade da Guiné-Bissau permite uma relação estreita entre as pessoas, embora, em várias ocasiões, famílias de etnias diferentes se envolvam em confrontos sobre a posse de terra que resultam em perdas de vida.

O sociólogo guineense Infali Donque considera que a sociedade deve posicionar-se contra qualquer tipo de atitude que vise a divisão.

“Este tipo de atitude devia ser, de facto, liminarmente condenado e rejeitado na nossa sociedade, porque isso não deve ter lugar. Considero um ganho até aqui essa boa relação de vizinhança entre a comunidade guineense, uma interligação e penetração forte, em termos de laços, e, portanto, até aqui, a Guiné-Bissau marcou a diferença em toda a sub-região.”

Para uma boa convivência interétnica, Helder Té apela a um diálogo nacional, com representantes de cada etnia da Guiné-Bissau – régulos e chefes de tabancas – “para mostrar à sociedade em geral que a Guiné-Bissau é uma única nação, é um povo.”

“Pode haver uma ou outra diferença em termos étnicos, mas aquela diferença é uma parte ínfima daquilo que nos une no país”, conclui.

 

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