As reuniões dos órgãos do Movimento Alternância Democrática (MADEM G-15) que decorreram durante três dias contribuíram apenas para agravar a crise interna no partido. Os altos dirigentes do partido acusados de traição não compareceram e aqueles quer presenciaram confrontaram praticamente o Coordenador do Partido, Braima Camará e na resposta estão longe das esferas de decisão. Uma das vozes dos traidores acusados foi Sandji Fati que acusou o partido de não agradecer o importante trabalho que fez em prol do MADEM e do PR. Outros dirigentes como Soares Sambú, Marciano Silva Barbeiro não compareceram, enquanto que, o vice-líder da bancada do MADEM, Nelson Moreira, vítima de severos ataques no Conselho Nacional, abandonou a reunião por discordar com o comportamento de Braima Camará que era moderador da reunião. Mais grave de tudo é que, Braima Camará nomeou supervisores regionais e não colocou nenhum dirigente considerado próximos do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló. Alguns dirigentes do MADEM consideraram de demasiadamente errado o comportamento do Coordenador, Braima Camará quando decidiu diabolizar altos dirigentes e permitir a seguir que todos fossem atacados pelos militantes que o apoiam. O partido está numa ebulição total e diariamente têm vazado vídeos de ataques no Conselho Nacional ao PR.
Tudo começou com três estrondosos ataques feitos por Braima Camará. Primeiro, no dia do Tabarsky, a seguir na Comissão Política do MADEM em Bafatá e depois na abertura do Conselho Nacional. Nessas três reuniões, Braima Camará acusou alguns dirigentes de traição ao ponto de afirmarem que está desgastado e que não podia continuar a frente do partido. Em consequência dessa realidade decidiu convocar reuniões dos órgãos do partido, de forma, segundo as suas promessas meter ordem contra dirigentes “tribalistas, mentirosos, traidores e bandidos”, bem como colocar fora das estruturas “todos os Presidentes das Comissões Políticas suspeitos” de não colaborar com o Coordenador.
O discurso de Braima Camará na abertura do Conselho Nacional acabou por servir de bengala aos demais dirigentes que atacaram o Presidente da República, os altos dirigentes suspeitos de traição, ameaçando afastá-lo das estruturas. O deputado, José Carlos Macedo, considerado fiel à Braima Camará foi indicado Coordenador do MADEM na província Leste e na região de Gabú, foi daqueles que mais atacou os supostos traidores.
Na reacção a esses ataques foi conhecida num vídeo posto a circular nas redes sociais, Sandji Fati, ministro da Defesa Nacional e dirigindo-se directamente à José Carlos Macedo que o acusou de ser tribalista, disse que não sabe o que significava aquilo. Para provar que nunca promoveu o tribalismo, Sandji Fati disse que a sua esposa é cristão e que os seus filhos alegam que são um misto de 50-50, números que pronunciou em inglês.
Usando de palavra durante quatro minutos, Sandji Fati começou por afirmar que está assustado em função daquilo que ouviu na reunião do Conselho Nacional e o rumo que o partido tomou. “Estou assustado. Ouvi pessoas a falarem aqui de etnias e regiões que estão no Governo. Hoje estão a falar em mandingas como disse o José Carlos. José Carlos, quero que saibas uma coisa: eu não sei o que é tribalismo. A minha esposa é cristão. Os meus filhos dizem que são fifty-fifty. Por favor não me liguem com questões étnicas”, referiu Sandji Fati que é um mandinga de etnia.
“Eu não sou traidor e nem sei o que é”
Fati pediu aos dirigentes do MADEM para deixarem de “escudar-se” e que abordem os assuntos com lealdade. “Da minha parte saibam que, eu, quando não tenho competências para um posto, não apareço lá. Chamam-me de traidor!? Eu não sei o que é traição. Não sou traidor. Tomei parte em três conflitos na Guiné-Bissau e tive oportunidade de trair, mas não trai”, assegurou, para revelar que na guerra de 7 de Junho de 1998 estava em Portugal com toda a família, mas decidiu regressar, porque a família, sobretudo a sua mãe insistiu que deveria voltar para o país.
As acusações de traições de Sandji Fati, Soares Sambú, Nelson Moreira, Marciano Silva Barbeiro e afins, terão sido contra o Coordenador do MADEM, Braima Camará. Quase numa confrontação total aos membros do Conselho Nacional, Sandji Fati pediu para lhe explicarem como é que traiu Braima Camará. “Parem com isso! Afinal é o que andaram a dizer todos esses dias? Tenham coragem de dizer a verdade”, apelou em tom de revolta.
Contando histórias de traição que viveu no PAIGC, sendo inclusive acusado de dar golpe de Estado e de traições que é acusado agora no partido, Sandji Fati disse que o Coordenador pronunciou os nomes dos ministros do MADEM e o dele foi saltado. “Não sabia que não sou ministro do MADEM. Não me chamaram, porque trai! Quem é que trai? É preciso ter coragem de dizer as coisas. Mas é bom saber que a intriga não é bom”, indicou Sandji Fati, bastante alterado.
Revoltado, Sandji Fati chegou ao ponto de revelar que, foi indicado como ministro da Defesa no dia em que fizeram a ordenamentação para a investidura simbólica de Umaro Sissoco Embaló. “Aquilo aconteceu 48 horas antes e quantas pessoas é que sabiam disso? Perguntem a São (Sãozinha Êvora)! Foi nesse dia é que se decidiu que seria indicado ministro da Defesa. Por favor parem! Mas infelizmente não sabia que não sou ministro do MADEM. Eu sou Homem do Estado. Existem segredos com quais vou morrer. Fui preparado para isso”, prometeu.
“Não sabia que não era ministro do MADEM”
Fati criticou igualmente o discurso tribal no MADEM onde se fala em fulas, mandingas, pepéis e demais outras etinas e questionou como é que aquilo pode servir ao partido. “As pessoas devem ser valorizadas pelo que fizeram. Não sabia que não era ministro do MADEM. Só ontem soube. Mas saibam que estou orgulhoso do que fiz em nome do partido. Nino Vieira foi tirado do Cemitério Municipal para Amura quem é que fez aquilo? Organizou-se 24 de Setembro do ano passado quem é que estava a frente? Afinal…”, interrompeu.
Nessa fase de intervenção, Sandji Fati foi interpelado pelo Coordenador do MADEM, Braima Camará em como devia resumir a sua intervenção. Fati resistiu e na réplica, Braima Camará disse que tinha que ter limite. Fati não desarmou e referiu que, o limite sobre o qual se fala devia ser acautelado, porque ele (Sandji) foi chamado de traidor e queria saber quem é que traiu. Braima Camará perguntou quem estava a controlar o tempo e que devia cortar palavra a Sandji. A palavra não foi cortada e Sandji Fati continuou a falar. “Sou do MADEM. Nos momentos difíceis estive presente. Infelizmente neste momento existem novos heróis. Chamam-me de traidor? Andam a sonhar ou quê? A mim não me vão tratar de traidor. Não conhecem a vida de alguém e andam a falar sobre ele”, dizia Sandji Fati no momento em que abandonava a tribuna, enquanto no fundo era audível a voz de Braima Camará a dar ordens para que fosse retirado a palavra.
Sabino Santos