Por: Fernando Casimiro (Didinho)
Não podia acreditar que, volvidos tantos anos, entre o seu nascimento, em Bafatá – 12 de Setembro de 1924 (à época, Guiné-portuguesa), o seu assassinato a 20 de Janeiro de 1973 em Conacri (Republique de Guinée), a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau a 24 de Setembro de 1973, em Madina do Boé, já como parte do Estado da Guiné-Bissau, AMILCAR CABRAL, Fundador e Militante Número 1 do PAIGC, em Bissau, a 19 de Setembro de 1956, que liderou a luta ARMADA e POLÍTICO-DIPLOMÁTICA, até ao seu assassinato, visando as Independências da Guiné-Bissau e de Cabo-Verde, fosse considerado cabo-verdiano, pelo actual Presidente da República da Guiné-Bissau, na sua visita de Estado a Cabo-Verde…
Um insulto à memória de Amílcar Cabral e uma manifestação de ignorância pura sobre a nossa História, Sr. Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló!
Foi muito infeliz ao afirmar que Amílcar Cabral, por ser filho de Pais Cabo-verdianos, era cidadão cabo-verdiano!
De vários estudos sobre posicionamentos de Amílcar Cabral, nunca encontrei uma passagem dele na qual afirmava ser cabo-verdiano.
Afinal porque é que o Presidente Umaro Sissoco Embaló reivindicou a nacionalidade cabo-verdiana para filhos (de emigrantes Guineenses), nascidos em Cabo-Verde?
Se são Guineenses, por serem filhos de Guineenses, mesmo tendo nascido em Cabo-Verde porque é que não basta a Embaixada da Guiné-Bissau em Cabo-Verde fazer oficialmente os seus registos agregados aos seus progenitores?
Amílcar Cabral que nasceu na Guiné, então portuguesa, por ser filho de Pais Cabo-verdianos, já não pode ser considerado Guineense?
Nunca li até hoje nenhum depoimento de algum cabo-verdiano afirmando que Amílcar Cabral era cidadão cabo-verdiano, mas tenho lido milhares de afirmações discriminatórias, racistas, de Guineenses, pasme-se, sobre a Naturalidade e a Identidade de Amílcar Cabral…
Dizer publicamente que cabe aos Cabo-verdianos valorizar ou não Amílcar Cabral, e comparar em jeito de minimização com um certo desprezo, o seu Estatuto, o seu percurso, a outros heróis e mártires da luta de libertação nacional, que merecem a honra de serem obviamente destacados, ignorando claramente que para lá da vertente político-diplomática da luta de libertação nacional, era Amílcar Cabral, igualmente, o cérebro das Operações Militares em todas as Frentes de Guerra até ao seu assassinato a 20 de Janeiro de 1973 (e não Nino Vieira), é sinónimo de desconhecimento da nossa História e, também, a constatação de uma confrontação assente num recalcamento eterno à Figura de Amílcar Cabral pela interpretação equivocada tendo em conta os seus estudos sociólogicos sobre as diversas etnias da então Guiné-Portuguesa…
Liberte-se desse recalcamento, Sr. Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló e tente ler os Ensinamentos que Amilcar Cabral deixou como Legado e verá que aprenderá imenso sobre a nossa História, o nosso Povo e, sobre ser Líder!
Sr. Presidente da República da Guiné-Bissau, na sua perspectiva, os filhos de Pais Cabo-verdianos, nascidos na Guiné-Bissau, são Guineenses para todos os efeitos. Foi o que afirmou no primeiro dia da sua visita a Cabo-Verde.
Então porque é que depois vem afirmar que Amílcar Cabral é cabo-verdiano e cabe aos cabo-verdianos a valorização ou não de Amílcar Cabral?
A Guiné-Bissau e os Guineenses não têm o dever e a “obrigação”, de valorizar Amílcar Cabral?
Amílcar Cabral precisa de algum favor para ser considerado Guineense, ou Amílcar Cabral é Guineense e um ORGULHO para a Guiné-Bissau e para os Guineenses?!
O nome Amílcar Cabral é Prestigiante para a Guiné-Bissau, para Cabo-Verde, África e para toda a Humanidade, Sr. Presidente Umaro Sissoco Embaló. Saiba valorizar Amílcar Cabral enquanto maior Referência Nacional Guineense!
Sr. Presidente Umaro Sissoco Embaló, está na hora de começar a ser mais Estadista do que aprendiz de revolucionário. É Presidente da República da Guiné-Bissau e os Guineenses não devem aceitar ser dirigidos por um Presidente que ignora e desprestigia os Valores Históricos da nossa Identidade Nacional assente na Diversidade!
Como foi possível tentar colocar Amílcar Cabral tão baixo, Sr. Presidente Umaro Sissoco Embaló?
Muitas vezes, o melhor para um Presidente da República, com limitações a nível político, histórico, jurídico ou diplomático, entre tantas outras, é não dizer nada; fingir que sabe tudo, sabendo que o tudo, é nada…!
Amílcar Cabral nunca precisou de dar a conhecer a sua Naturalidade ou Nacionalidade, para deixar publicamente o seu COMPROMISSO…
“…jurei a mim mesmo que tenho que dar a minha vida, toda a minha energia, toda a minha coragem, toda a capacidade que posso ter como homem, até ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo, na Guiné e Cabo Verde. Ao serviço da causa da humanidade, para dar a minha contribuição, na medida do possível, para a vida do homem se tornar melhor no mundo. Este é que é o meu trabalho.” Amílcar Cabral – 1969
Positiva e construtivamente.