Para os que ouçam a música de Maio Coopé ( ) desde os meados da década 80, certamente que chega a conclusão do fundo distintivo do exímio músico guineense: as suas músicas multifacetas, espelham profundamente a identidade cultural da Guiné-Bissau. A sua “indumentária musical” ostentam vários estilos dos diferentes grupos étnicos do país -, com picadas/misturadas na sonorização acústicas, fundem na voz do músico, a própria guineendadi. No Djumbai Djass, de cabaz a tina, de djambadon a kussundé, e outros que amparam o nosso tecido cultural, Maio Coopé consegue fundir o Gumbé aos ouvidos do público de forma suave e electrizante. Aliás, quase que ninguém consegue ficar indiferente ao sentir o deslizar percurssionista de Maio Coopé – alicerçadas com a sua voz mansa e penetrante. Sejam no carro, no barco ou piroga, no quarto, no bar ou restaurante, ninguém consegue “adormecer” aos sons dos ritimos hilariantes do Maio Coopé. E nas discotecas? Tudo leva a supor que, pelo fulgor que as suas músicas apresentam agora ao grande público, muitos sapatos terão que passar por oficinas das sapatarias neste final, não obstante o obstáculo da Covid-19.
Depois de um período de “adormecimento” de quase 22 anos, Coopé no seu singular estilo, regressa de forma exuberante com o novo albúm – Nô na Riba Terra (havemos de voltar às raízes). Digo de outra maneira: voltar a terra nos viu nascer – Guiné-Bissau. A terra que infelizmente, o “expulsou” em 1998 no auge do conflito armado de 7 de junho, onde o som das bombas desafiava os audazes criadores. Maio Coopé, tal como muitos outros criadores, não fugiram a regra. Ele optou por rumar, sem querer as terras lusas.
O álbum composto de 10 faixas musicais em cabas garandi, contou com os arranjos musicais do multinstrumentalista guineense, Manecas Costa. O génio guitarrista, conseguiu timbrar de perfume às músicas do talentoso Maio Coopé.
As dez faixas musicais, Balako, Coopé Sabi, Bariga, Corçon de Maria Amélia, África, Broksa, Ronca N`Bunda, N`Dingui, Squema e Bulungudjuba, contaram todos com arranjos do virtuoso – Manecas Costas, coadjuvados com grandes nomes da nossa cultural, como Goguy Embaló, Kabum, Sadjó Cassama e Tony Bat Júnior.
No álbum “Nô Na Riba Terra”, Maio Coopé deixou-nos referências sociais de grande importante, como no “Coopé Sabi”, onde enalteceu a importância dos homens cultivarem maior paciência com as mulheres, abdicando de uma relação simplesmente cínica. Ou sejam, são notórias metamorfoses nas relações entre os homens e as mulheres, principalmente entre os períodos que sucedem o dia e a noite… durante o dia, alguns esposos adoptam por um tipo de comportamento maliciosos com as suas esposas, mas que aproveitam o período da calada da noite para amansar a situação.
No tema “Africa”, Maio Coopé lamenta as constantes convulsões que o continente tem vivido desde a sua independência a esta parte. Lamenta O sonho dos grandes líderes postos nas prateleiras do esquecimento.Daí o músico apelou o regresso as raízes.
Nostálgico com a terra que deixou por anos, os parentes, os amigos e parentes e tradição, Maio Coopé apelou o regresso dos companheiros as origens para “escavar o essencial” no Djumbai Djass. Já que sente que uma parte da origem dele (s) fora (m) subtraído (s) pelo tempo. A canção “Balako” exprime este sentimento de nostálgia, do amor, da tradição, dos que partiram na sua ausência para eternidade, dos que deixaram com tenra idade, mas que agora são homens e, dos nasceram na sua ausência.
Lá vem “N`Dingui”, uma autêntica divagação sobre a solidão. E lá por dentro, podemos encontrar a mais deliciosa no disco, “Maria Amélia”. Com arranjos acústicos de encher os olhos, a música vem carregada de uma “voz de outra planeta”, chamada Sílvia Silva.
Quem é Maio Coopé?
A aposta nas coisas diferentes que valeu a Maio Coopé a sua alcunha. “A minha forma de vestir para muitos assemelhava-se aos europeus que, nos anos 1980, começaram a chegar à Guiné-Bissau e que na altura eram chamados cooperantes, daí o diminuitivo Coopé. Quanto a Maio, é a alcunha em crioulo de Mário”, contou uma vez uma o músico.
Maio Coopé foi vencedor de vários festivais na Guiné-Bissau: festival da música tradicional – 1977; 1984 Festival Descoberta de Novos Talentos – 1984, Festival de Mandjuandadi (Música Tradicional) 1985, Festival organizado pelo jornal estatal, Nô Pintcha (Música Moderna), onde saiu vencedor 1997, 1990 Festival Fesnac e Festival- Djitu Ten ku Ten (Temos que arranjar alternativas), organizado no âmbito dos estudos nacionais prospectivo longo organizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas – INEP.
Internacional participou em festivais conceituados como La Villete (França), Sfins (Bélgica), Rambout Festival e Nordezem (Holanda), Festival de músicos do mundo Strictly Mundial (Espanha), entre outros.