Acrise económica desencadeada pelo Covid-19 está a forçar uma depreciação das moedas de Angola e de Moçambique e, por essa via, a encarecer a importação de produtos, nomeadamente da China, segundo diversos agentes no mercado.
Dados do Banco de Fomento Angola (BFA) indicam que até final de Março a moeda angolana, o kwanza, tinha perdido mais de 10% do seu valor para o dólar em relação ao início do ano, e mais de 40% nos últimos meses, com a divisa a transaccionar oficialmente a 536,7 kwanzas.
No mercado paralelo, segundo a página electrónica Kinguila Hoje, o valor é ainda superior – 650 kwanzas.
No seu boletim sobre a situação económica angolana, o BFA dá conta de “uma depreciação significativa” do kwanza nas últimas semanas, uma vez que a quebra das receitas petrolíferas angolanas gerou “expectativas entre os participantes do mercado de uma oferta substancialmente menor de moeda estrangeira a partir de Abril.”
A “pressão descendente significativa no kwanza” deverá “aumentar nos próximos meses”, segundo o BFA, que mantém por enquanto uma previsão de 20% para a inflação angolana em 2020, acima de 17,5% registados no ano passado.
A desvalorização do kwanza coloca também pressão sobre a componente da dívida denominada em moeda estrangeira, elevando a percentagem da dívida em relação ao produto da economia, o que leva já alguns países africanos a assumir a necessidade de reestruturar ou pedir um perdão de dívida, para enfrentar a crise económica causada pelo Covid-19, que obrigou ao confinamento da população e paralisação em diversos países, como Angola e Moçambique.
Também a importação de produtos, nomeadamente da China, deverá sofrer, segundo afirmou à agência noticiosa Lusa o presidente da Câmara de Comércio Angola-China, Manuel Arnaldo Calado.
“Não conheço nenhum produto que esteja em Angola ou que já tenha estado em Angola, que a China não tenha para oferecer. A China realmente faz-nos falta, porque fornece tudo, desde o mais barato ao mais caro”, disse Calado.
Também a moeda moçambicana, o metical, tem estado a desvalorizar de forma acentuada nas últimas semanas, negociando actualmente a 68 meticais por dólar, menos 9% do que a média do ano passado (62,5 meticais).
A desvalorização prosseguiu mesmo depois da injecção de 500 milhões de dólares feita pelo Banco de Moçambique no Mercado Cambial Interbancário, por um período de nove meses.
O recuo do metical era esperado pelo governo moçambicano, cujo porta-voz do Conselho de Ministros, Filimão Suaze, reconheceu em Março que uma depreciação da moeda face ao dólar teria impacto nos preços internos, prevendo ainda “um incumprimento” dos prazos nas entregas de vários produtos devido à interrupção de produção na China no início do ano, uma das principais fontes de produtos importados. (Macauhub)