A recente decisão do Governo de congelar as admissões nos dois sectores que eram excepções (saúde e educação), vai provocar graves prejuízos aos visados, mas também as escolas de formação. A previsão das inscrições para o próximo ano caíram drasticamente, mas as contas da actualidade são para quem sai prejudicado, se o Ministério da Educação tomar decisão igual ao da saúde. O Ministério de saúde já suspendeu contrato de 1500 técnicos de saúde entre enfermeiros e médicos. O Ministério de Educação prevê fazer o mesmo e admite que o número pode ser superior. Só num ano, cerca de 2 mil professores ou mais podem receber guia de marcha para abandonarem o sector, por suposta falta de condições do Governo.
No sector de saúde, a formação é assegurada pelo Governo e privados. Para além da Escola Nacional de Saúde e Faculdade Raúl Diaz controladas pelo Governo, o direito formação no domínio da saúde foi catalogada ás Universidades Lusófona e Jean Piaget. Universidade Lusófona forma técnicos na enfermagem superior e Jean Piaget forma Médicos. Existe ainda outra instituição de formação a nível nacional denominada Bâ Biagué, que em parceria com uma Universidade brasileira, também assegura a formação dos técnicos de saúde.
Todos estes formados serão obrigados a ficar sem admissões, uma vez que a decisão do governo, não obstante muito polémica, parece que deverá afirmar e consolidar-se.
O que é indiscutível neste momento, são os prejuízos que a decisão do Governo causou. Quando o ministro Dionísio Cumba exarou o despacho que suspende os contratos, todos os técnicos abrangidos pelos mesmos abandonaram os seus postos. É que, o ministro anulou todas as admissões do ano 2021, quando era ministro, António Deuna. Os sindicatos reclamaram, mas nada mudou.
Ensino ficará muito prejudicado
Segundo dados apurados pelo E-Global, anualmente o sector de educação através das quatro escolas controladas pelo Governo, produz acima dos 1000 professores.
Em virtude dessa decisão, todos os formados vão ficar sem colocação independentemente das necessidades evidentes no sector educativo guineense, sobretudo no que concerne a classe docente no interior do país. Existem nessas localidades escolas que encerraram por falta de professores, como neste momento mais de 5 dezenas de centros de saúde encerraram.
Na educação, a situação vai agravar ainda com a possibilidade de saírem novamente perto de 900 formandos, uma vez que os três novos polos criados pelo Governo, em Cacheu, Bafatá e Buba terão finalistas do ano 2021/2022.
Para agravar ainda mais a situação, as quatro escolas de formação estão neste momento a finalizar os exames de recurso, o que implica ter um número perto dos 976 que saíram das escolas de formação entre 2020/2021.
Na Guiné-Bissau, as escolas de formação de professores são exclusiva responsabilidade do Governo. Ao todo são 7. Escola Superior de Educação (ESE) que engloba Tchico Té e Escola Nacional de Educação Física e Desportos para formar licenciados; Escola 17 de Fevereiro, em Bissau e Amílcar Cabral em Bolama que forma professores em bacharel.
Em 2019, dada as necessidades e em virtude das reformas operadas no sector educativo, o Governo criou três polos de escolas de formação na Guiné-Bissau em Cacheu (quarta região do país mais populosa e que recebe estudantes do país), Bafatá (segunda capital) e Buba, uma zona que recebe formandos de três regiões (Quinará, Bolama e Tombali. São estes três últimos que, conforme dos dados apurados podem produzir este ano juntas cerca de 900 professores.
Estas escolas em Cacheu, Bafatá e Buba funcionam em regime de internato e são das mais concorridas neste momento no capítulo de formação, até porque, a organização das mesmas é eficiente e progressiva.
Os responsáveis das escolas preferiram o anonimato para criticar a decisão do Governo, uma vez que os seus formandos não vão ter como serem colocados, num país onde há uma carência absoluta de docentes.
São mesmo mais de 2000 professores
Se os dados para estas escolas ainda estão para chegar, as acima citadas, as tradicionais têm números oficiais revelados por pessoas ligadas as mesmas. Na ESE por exemplo, saíram na época 2020/2021, cerca de 300 professores e consequentemente colocados. A escola que mais formou professores nessa altura foi 17 de Fevereiro com 347 professores que receberam diplomas.
Na Escola de Educação Física e Desportos (ENEFD), o número de formados foi de 120, enquanto, Amílcar Cabral, em Bolama, especializada em formar Bacharéis, terá formado 209 professores entre 2020/2021. “Feitas as contas, foram 976 professores saídos e colocados no ano passado. Estamos nos exames e existem possibilidade de nessas escolas saírem números idênticos. Significa que serão cerca de 1843 professores em dois anos. Quanto é que podem sair dos polos. Vamos para o optimismo de dizer que cada polo pode produzir cerca de 150 professores. Ao todo serão no mínimo 450 professores. O que fazer com eles”, comentou um professor da escola de formação.
O processo de admissão dos professores no ano passado na Função Pública começou com uma polémica, porque os sindicatos denunciaram que, militantes dos partidos não formados como docentes, estavam a ser colocados na Função Pública via educação. Mas soube-se depois que, estava na forja essa estratégia de reduzir ou acabar como aconteceu com a saúde.
Os sindicatos das escolas de formação de professores estão a recolher dados para confrontar o Governo com aquilo que chama de problemas extremamente grave e que vai mexer profundamente com o sector do ensino.