Ontem, dia 10 de outubro de 2025, pelas 10h35, telefonei ao Dr. Luís Vaz Martins sobre um assunto de índole profissional, na qualidade de meu advogado.
Horas depois, concretamente às 14h41, devolveu-me a chamada para me informar que havia sido raptado, brutalmente espancado e abandonado numa zona que não conseguia identificar.
Durante a nossa conversa telefónica, apareceram algumas mulheres que lhe disseram que se encontrava na zona de Ondame. Foram essas mesmas mulheres que lhe prestaram os primeiros socorros, permitindo-lhe regressar a casa.
Hoje, o Dr. Luís Vaz Martins relatou-me que fora abordado por quatro homens armados e encapuzados, que se deslocavam num táxi, nas imediações do seu escritório, situado na Praça Titila Silla, em Bissau.
Ao tentar resistir, foi violentamente agredido na cabeça, perdeu os sentidos e, em seguida, foi atirado para dentro do táxi.No interior do veículo, um dos milicianos agressores apertou-lhe a garganta com as pernas, numa tentativa de o estrangular. Lutava por respirar e temia pela própria vida. A sua sorte foi que o agressor que conduzia o táxi se apercebeu das suas dificuldades em respirar e ordenou ao cúmplice que cessasse o estrangulamento.
Já na floresta de Ondame, o Dr. Luís Vaz Martins contou que foi algemado e barbaramente espancado. Como já se tornou prática habitual, toda a sessão criminosa foi filmada, certamente para o consumo e deleite do mandante.
Não é a primeira vez que o Dr. Luís Vaz Martins é atacado, ameaçado ou intimidado por cobardes que temem a força das suas palavras e a nobreza das suas ações em defesa dos direitos humanos, da democracia e do Estado de Direito.
Conheço o Dr. Luís Vaz Martins há mais de vinte anos. Fui seu Vice-presidente durante oito deles. Ao longo desse tempo, testemunhei a sua coragem inabalável, o seu profundo apego aos valores da liberdade, e o seu respeito absoluto pela dignidade da pessoa humana.
Este ataque hediondo, de que foi vítima, é o preço da sua coragem, o preço da sua teimosia em denunciar ilegalidades, da sua voz incómoda que não se cala, e da sua luta incansável por uma Guiné-Bissau de paz, tolerância e justiça.
Os que atacaram o Dr. Luís Vaz Martins são os mesmos milicianos que têm aterrorizado cidadãos, jornalistas, ativistas dos direitos humanos, advogados e opositores políticos ao longo dos cerca de seis anos deste regime no poder.
Num primeiro momento, os inquilinos do poder tentaram fazer crer que se tratavam de casos isolados. Mais tarde, preferiram refugiar-se no silêncio cúmplice, perante a repetição de atrocidades semelhantes.
Ao longo da sua história, a Guiné-Bissau foi palco de golpes de Estado, assassinatos políticos e crises militares. Mesmo nesses tempos sombrios, algumas instituições vitais como a justiça, mantinham um mínimo de dignidade e funcionalidade.
Hoje, porém, as instituições democráticas estão destruídas, a justiça foi capturada e rendeu-se ao autoritarismo. Como tantas outras vezes, este crime mergulhará no mar da impunidade, porque a impunidade tornou-se a maior instituição do país.
A agressão contra o Dr. Luís Vaz Martins marca o regresso do esquadrão de rapto e espancamento, desmentindo aqueles que ingenuamente acreditaram que essa célula de terror tinha sido desmantelada.
Aos mandantes e executores desta ignóbil operação, deixo-vos uma verdade incontornável: foram bem-sucedidos em agredir o corpo do Dr. Luís Vaz Martins, talvez até em deixar-lhe marcas permanentes.
Mas tenham a certeza de uma coisa: o Luís que eu conheço jamais se calará diante das vossas agendas tirânicas e totalitárias, que pretendem transformar a Guiné-Bissau na maior ditadura da África Ocidental.