A Organização Mundial de Saúde (OMS) quer que os decisores no continente africano dediquem uma especial atenção ao cancro nas crianças. A doença, embora curável, está a progredir, muito por falta do investimento. Nesse âmbito, a organização, em colaboração com a Rede dos Medias Africanas para Promoção de Saúde e Ambiente (REMAPSEN) organizaram um Webnaire no passado dia 27 de Março para abordar com mais de cinco dezenas de jornalistas africanos, uma temática que a organização considera que é esquecida. Para além dos jornalistas serem ensinados as diferentes formas de contaminação da doença, o seu tratamento, bem como a circunstâncias em que é mais letal, os técnicos da OMS apelaram um investimento na despistagem. Os números do continente sobretudo África Ocidental e Central são dramáticos, pelo que urge encontrar respostas antes que a situação venha a piorar. Os Estados, segundo as conclusões da OMS não estão a honrar os compromissos internacionais assumidos para o combate a doença.
Para ensinar e esclarecer às dúvidas dos jornalistas, a OMS indicou dois especialistas, nomeadamente Issimouha Dille, Responsável pela luta contra o Cancro no escritório regional da OMS em África e o Atteby Jean-Jacques, Chefe do departamento de oncologia pediátrica do Hospital Materno-Infantil de Bingerville na Costa do Marfim. Durante a interação, os dois técnicos alertaram aos jornalistas sobre o risco sobre o qual as crianças estão sujeitas e aqueles que, segundo eles devem ser fases e etapas, tanto dos pais como da sociedade em geral.
Segundo os dados da OMS, cancro pediátrico atinge mais de 400.000 crianças com cancro em todo o mundo e são números que, segundo a organização devem preocupar todos. Os mesmos dados, o continente africano é o mais atingido, porque no total de 400 mil infectados, 3% deles escapam ao diagnóstico precoce na Europa e na América do Norte, enquanto esta taxa é estimada em mais de 50% dos casos entre crianças com cancro de 0 a 19 anos em África.
Ao usar de palavra, a Senhora Issimouha Dille começou por advertir que a nível de muitos países africanos, o cenário do cancro pediátrico é caracterizado por uma baixa taxa de cobertura de cerca de 20%, ou seja, uma criança em cada cinco é que beneficia de apoio enquanto o objectivo inicial é definido em 60%, o que reflecte o compromisso dos países da África Ocidental e Central até 2030, de acordo com o ponto 2 dos 17 Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Com dados mesmo dramáticos para África Ocidental e Central, 8/10 dos casos são curáveis em África, mas 4/5 dos casos são curados nos países desenvolvidos, enquanto 1/500 casos de crianças que sofrem de cancro são curados na África Ocidental e Central. 90% destes casos estão presentes em países de baixo e médio rendimento.
Ela também listou os seis (6) casos de cancros, presentes na África Ocidental e Central, nomeadamente cancros renais, oculares, do sangue, cancros da medula óssea, cancros dos gânglios linfáticos (linfomas), antes de discutir a Iniciativa Global da OMS, lançada em 2018 pelo Conselho Mundial. Organização da Saúde (OMS). “Estes casos puderam ser identificados graças a esta iniciativa global da OMS. É uma iniciativa que visa mobilizar parceiros de desenvolvimento nos países africanos e nos Estados africanos com vista ao seu forte envolvimento na luta contra o cancro infantil em África”.
“É preciso formar profissionais de saúde”
Entretanto a apresentadora assegurou que, o envolvimento dos Estados Africanos deve ser em diversas formas de intervenção a favor das crianças com cancro. Nestas formas, destacou a formação de profissionais de saúde, o apoio técnico e o fornecimento de medicamentos a um custo inferior ao que é actualmente praticado no mercado fornecedor de medicamentos em África. “Mais de 100 países aderiram a esta iniciativa da OMS”, afirmou.
A abordagem do cancro nas crianças envolve vários factores desconhecidos, mas quase todos os jornalistas queriam conhecer a Causa. Issimouha Dille disse que nesta fase, não existem causas comprovadas para estes tipos de cancro, não são bem definidos como o cancro do adulto, cujas causas estão ligadas ao tabagismo, ao alcoolismo e à dieta alimentar.
“Mas , as mulheres, durante a gravidez podem ser expostas a radiações, óxidos e todos os tipos de infecções específicas se não forem tomados cuidados. Outra questão é o facto dos países da África Ocidental e Central não terem dados fiáveis, uma vez que ainda não possuem registos adequados para registar dados relacionados com crianças com cancro nestas áreas do continente africano”, assegurou Issimouha Dille para mais adiante salientar que, existirem apenas cinco 5 países na África Ocidental e Central que possuem registos de qualidade, só que lamentavelmente incluem poucos dados fiáveis relativos às crianças afectadas por esta patologia. “Há claramente um problema da recolha de dados e da sua fiabilidade na África Ocidental e Central”, rematou.
Para este técnico da OMS, se o problema não tiver solução a curto prazo, corre o risco de agravar a situação do problema ligado ao diagnóstico precoce de crianças doentes e ao seu cuidado eficiente devido à imprecisão destes dados que não constituem a prioridade das prioridades das autoridades.
“Os casos de cancro entre crianças na África Ocidental e Central são curáveis se estes dados forem bem conservados e armazenados, desde que o diagnóstico também seja estabelecido precocemente”.
Números dramáticos em África
Debater o cancro pediátrico com os jornalistas exige a disponibilização de certos dados de modo a permitir uma maior compreensão, mas também mobilização para se interessar da doença. Para Atteby Jean-Jacques, Chefe do departamento de oncologia pediátrica do Hospital Materno-Infantil de Bingerville na Costa do Marfim há mais de 300 novos casos diagnosticados que são confirmados em crianças e a tendência geral tende agora para mais de 1000 novos casos de cancro na África Ocidental e no Centro, mesmo que estes 250 casos que só são diagnosticados. Referiu ele que, essa é quase a mesma na Costa do Marfim, conforme revelado pelas estatísticas que variam entre 200 ou mesmo 250 casos na Costa do Marfim.
Insistindo mais na experiência da Costa do Marfim, revelou que, o Hospital no qual trabalha registra 80% de internações nos últimos meses do ano e seus pacientes são atendidos por uma equipe de diversas especialidades entre cirurgiões, pediatras, biólogos. “O hospital também recebeu dois terços dos casos de crianças com esta patologia diversa, por vezes em fase avançada, mas o hospital tem a seu crédito mais de 40% dos casos de remissão. O hospital trata todos os tipos de câncer em crianças e adolescentes”, frisou.
Quanto a mobilização dos Estados, ele esclareceu que, a OMS orienta os países para permitir que estes países tomem as melhores decisões em saúde pública. “Sobre aquilo que está sob o nosso controlo, a OMS está a trabalhar para atingir 60% de casos de sobrevivência ligados a cancros entre crianças em África e quer mesmo aumentar esta taxa para 100%”.