O Secretário-executivo da coligação eleitoral Guiné Nobu, Halem Na Poco, abordou, esta quinta-feira (10.08), em entrevista aos órgãos de comunicação social, vários assuntos de atualidade guineense e, em particular, aquilo que deveria ser a atuação do futuro governo da Guiné-Bissau, em relação a vários desafios do momento. Segundo as observações do dirigente político, o país está a enfrentar o “aumento galopante” e “descontrolado” de produtos da primeira necessidade, agravado por fraca campanha de comercialização da castanha de caju e pela queixas de fome por parte das populações.
“Ouvi o novo primeiro-ministro [Geraldo Martins] a reconhecer a gravidade dos desafios que existem, agora é saber como se trabalhará e qual será a forma como o próximo governo vai encarar os problemas das finanças públicas, porque as nossas despesas são superior às receitas”, começou por dizer, numa longa comunicação. O dirigente da coligação derrotada nas últimas legislativas defende que “o próximo governo deve fazer uma contenção de despesas, para lidar melhor com os desafios, porque os próximos tempos serão de muitas dificuldades”.
Mas para melhor lidar com os problemas à espera do governo, Halem Na Poco é de opinião que o furo executivo liderado por Geraldo Martins deve começar ele mesmo a dar exemplos, a começar com o número reduzido dos seus membros.
“O executivo tem que ter cuidado e capacidade de resistir a medidas populistas. O governo tem que dar o primeiro sinal, fazer a contenção de custos, a começar por ele mesmo. Seria melhor ter um governo curto e eficiente”, defendeu, para depois revelar um dado “curioso”. “Em média, nos governos anteriores, as despesas anuais eram de cerca de um bilhão de Francos CFA. Segundo a lei, cada membro do governo tem direito a seis pessoas para o seu gabinete, entre o chefe de gabinete, assessores e assistentes administrativos, tudo isso é uma despesa”, revelou.
Para o secretário-executivo de Guiné Nobu, “é fundamental que o próximo governo continue o programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI), porque a massa salarial de sete biliões de Francos CFA [mensal], não é sustentável e é preciso reduzi-la”, defendeu.
Outro assunto abordado por Halem Na Poco é o “fracasso” da Lei da Paridade e a igualdade do género no campo político guineense, apelando a uma maior participação feminina no próximo governo. “A configuração da Assembleia Nacional Popular (ANP) demonstra que o país falhou em relação à igualdade do género e à Lei da Paridade. Que o próximo governo seja capaz de redimir, com uma participação assinalável das mulheres no governo. Isso cabe ao primeiro-ministro, porque a entrada no governo depende do fator confiança, mas seria salutar ter mais mulheres no governo”, disse.
Na Poco concorda que o país precisa de reformas estruturais na administração pública em geral, para rumar ao desenvolvimento. Mas desacorda com a entrada, no governo, do Partido da Renovação Social (PRS) e do Partido dos Trabalhadores Guineenses (PTG), que assinaram, recentemente, acordos de incidência parlamentar e governativa com a coligação da Plataforma da Aliança Inclusiva – PAI Terra Ranka, vencedora das eleições.
“O acordo de incidência parlamentar, sim, mas governativa não. Há questões legislativas como Constituição da República, que para ser revista precisa-se de um entendimento no parlamento. Mas o acordo de incidência governativa não era necessário, porque há uma maioria sólida [de 54 deputados] para a coligação governar. Mas isso só a coligação pode explicar por que decidiu avançar com esses acordos”, disse o dirigente político, que, ainda assim, expressa o desejo de ver entendimento entre os assinantes dos acordos.
“Esperemos que haja responsabilidade de quem fez o convite [a PAI Terra Ranka] e de quem aceitou o convite. Que essa responsabilidade signifique uma duração de quatro anos, até ao fim da legislatura. Não queremos muita conversa e puxa-puxa. Queremos que, quem foi atribuída a responsabilidade de governar, que governe e quem foi atribuída a responsabilidade de legislar, que o faça”, desejou.
Em relação às últimas eleições legislativas, Halem Na Poco deixa elogios ao povo guineense. “Não existe nenhuma dúvida para ninguém quanto à capacidade e maturidade do povo guineense, quando é chamado para decidir. As eleições aconteceram com total liberdade e civismo”, observou.
Por isso tudo, o secretário-executivo de Guiné Nobu disse que os resultados eleitorais foram claros. “O povo deu a maioria absoluta à coligação PAI Terra Ranka, mas não lhe passou carta branca. Logo, o governo tem que governar”, afirmou.
Na Poco espera Bom senso do chefe de Estado guineense para com o futuro governo. “Quanto ao Presidente da República [Umaro Sissoco Embaló], o cenário político atual recomenda-lhe uma contenção. Ele deve manter uma equidistância do governo para permitir este governar e dar respostas aos problemas do país”, concluiu.