No âmbito da celebração de 25 anos de existência do Banco de África Ocidental (BAO), o Director-Geral do BAO concedeu uma entrevista a imprensa para falar daquela que é neste momento a maior instituição bancária do país. Rómulo Pires faz um balanço positivo de um Banco de Direito Guineense e com quadro de pessoal constituído a 100% por guineenses. Disse que o banco é dirigido por quadros guineenses e tem como centro de decisão a Guiné-Bissau. Os investimentos realizados ao longo dos anos foram essencialmente para o alargamento da rede de agências para zonas que nunca tiveram ou beneficiaram dos serviços bancários, apesar de todas as dificuldades que se conhece das infraestruturas rodoviárias, infraestruturas de comunicação, energia, entre outros. Disse que o BAO contribuiu significativamente para o crescimento da taxa de bancarização na Guiné-Bissau. Ele destacou nessa entrevista a confiança que os cidadãos têm para com o BAO e revelou que neste momento, os depósitos em mais de 80 biliões de Fcfa e os empréstimos concedidos num montante acima de 60 biliões de Fcfa estão a nível das expectativas. Em relação a sustentabilidade do sector bancário, o Director-Geral fala das reformas necessárias para dar maior segurança aos créditos, mas também apontou aqueles que considera medidas capazes de ajudar no financiamento da economia. De imediato, Pires defende que, não seria má substituição da cobrança do IGV e do Imposto de Selo atualmente aplicado às operações bancárias por uma taxa única à semelhança de todos os países da UEMOA.
Pergunta (P) – O BAO completa este ano 25 anos de existência. Do seu ponto de vista, o que o BAO representa hoje para a sociedade guineense?
Rómulo Pires (RP) – O BAO hoje é uma instituição de referência nacional, sinónimo de crescimento, inovação e confiança. O BAO está presente em vários pontos do país com 14 agências abertas das quais 7 no interior, 23 caixas de pagamentos automáticas distribuídas por todo o território nacional, 172 funcionários, 76 biliões de FCFA de ativo, 80 biliões de depósitos e 62 biliões de créditos concedidos. O BAO hoje aposta na promoção e distribuição dos produtos inovadores, tais como, a internet-banking, o mobile banking, os cartões Visa, entre outros. O BAO hoje é o Banco com que o guineense se identifica e se sente confortável. Portanto, o BAO representa para a sociedade guineense um parceiro importante que tem contribuído muito para o bem-estar das pessoas e empresas, ou seja, para o desenvolvimento económico do país.
P – Maior e único banco de dimensão nacional, líder do mercado em todos os segmentos e áreas de intervenção, como vê o BAO daqui a cinco anos?
RP – Vejo o BAO a cimentar a sua marca de banco de referência nacional contribuindo significativamente para o crescimento da taxa de bancarização através da sua ampla presença nas principais localidades do país permitindo que cada guineense, independentemente do género, religião, atividade ou classe social, tenha acesso ao vasto leque de produtos e serviços financeiros disponibilizados pelo BAO. Vejo um banco focalizado para as novas tecnologias com ênfase na digitização das soluções apresentadas. Um banco muito mais competitivo e determinado a expandir para outros mercados da sub-região.
P – Quais os impactos da alteração na regulamentação sobre as atividades do banco?
RP – Abordarei com maior ênfase as medidas que visam reforçar a resiliência dos bancos, nomeadamente o reforço do capital mínimo exigido, mecanismos de governação dos bancos, exigências relativas ao controlo de operações que visam combater o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo assim como os requisitos de avaliação de riscos relacionados com as operações de créditos.
Com estas alterações, o regulador pretende, de facto, criar condições que reforcem a segurança do património dos clientes, através de um maior controlo à gestão quotidiana dos bancos, pelo que considero ser algo vantajoso não apenas para os depositantes, mas também para os próprios bancos, uma vez que com este elevado padrão de exigência, os bancos conseguem melhorar dia a dia a sua produtividade e eficiência com impacto na melhoria da qualidade de serviços prestados, mesmo que às vezes não sejam bem perceptíveis, porque há necessidade de recolha exaustiva de informações sobre os clientes e as suas operações e em alguns casos, o tempo de tratamento das operações acarreta alguns atrasos em relação ao desejado. É importante que haja um pouco mais de paciência e tolerância porque, na verdade, estes procedimentos reforçados vêm contribuir para uma maior transparência e segurança das transações bancárias e, em certa medida, contribui para a clarificação da imagem do país que muitas vezes é conotada erradamente com estes fenómenos.
Em relação às exigências na avaliação de riscos de crédito, sempre houve esta necessidade, mas agora mais do que nunca, é importante e imperativo que as empresas apresentem contabilidade organizada, que efetuem declarações de impostos o que permite o banco apreciar melhor o risco da operação e adequar o financiamento às necessidades reais do cliente à sua capacidade financeira. Neste âmbito, não posso deixar de referir um dispositivo recentemente criado pelos países da UEMOA, implementado pelo BCEAO, que visa aumentar o financiamento às Pequenas e Médias Empresas, em que foram selecionados uns grupos de gabinetes de consultorias, que apoiam no enquadramento as empresas que pretendam recorrer aos financiamentos bancários. Estes gabinetes apoiam essencialmente na elaboração de planos de negócios, organização contabilística, implementação dos projetos, entre outros. Penso que são medidas muito importantes que podem alavancar o financiamento da nossa economia e o seu crescimento.
P – Se pudesse falar com as autoridades do país, que propostas-chave gostaria de lhes apresentar e que poderiam melhorar o mercado?
RP – Sugeria a substituição da cobrança do IGV e do Imposto de Selo atualmente aplicado às operações bancárias por uma taxa única à semelhança de todos os países da UEMOA. Penso que esta medida reduziria os custos associados às operações bancárias, reduziria essencialmente o custo de financiamento e como tal teria um impacto positivo no aumento de financiamento à economia do país e na inclusão financeira.
Por outro, também seria importante prestar uma maior atenção ao setor da justiça, dando os meios necessários para reforçar a segurança do investimento privado no país e criar mecanismos que facilitem a cobrança de créditos em incumprimento, nomeadamente com a introdução da figura do “Agente de Execução”, que cremos, poderá introduzir maior celeridade na execução de créditos mal parados.
Também o Estado deveria esforçar no sentido de melhorar as vias de acesso ao interior do país, pois, contribuiria melhor nos esforços que o BAO tem feito no alargamento da sua rede de agências às várias localidades do interior do país e certamente iria incentivar bastante os investimentos privados no setor das telecomunicações porque é um fator determinante na distribuição dos nossos serviços.
P – Diz-se habitualmente que o BAO é um banco genuinamente guineense. A que se refere esta alusão?
RP – Basta olharmos pelos propósitos iniciais da sua criação que consistiram no apoio ao financiamento dos projetos de investimentos estruturais do país, os seus promotores ou acionistas iniciais em que figuraram empresários guineenses bem-sucedidos e com muita influência no país. Um Banco de Direito Guineense e com quadro de pessoal constituído a 100% por guineenses. O banco é dirigido por quadros guineenses e tem como centro de decisão a Guiné-Bissau. Os investimentos realizados ao longo dos anos essencialmente no alargamento da rede de agências para zonas que nunca tiveram ou beneficiaram dos serviços bancários, apesar de todas as dificuldades que se conhece das infraestruturas rodoviárias, infraestruturas de comunicação, energia, entre outros. Estes investimentos foram efetuados com um grande sentimento de dever para com o país no sentido de o banco dar a sua contribuição no desenvolvimento económico e social do país, na melhoria das condições de vida das populações e na devolução de confiança ao sistema financeiro que, entretanto, se perdeu durante a crise político-militar de 1998. É importante referir ainda que o BAO é o banco que utiliza todos os recursos captados na Guiné-Bissau para financiamento da economia do país.
P – O BAO tem vários produtos, mas, também tem produtos para a comunidade guineense emigrada. Quais são esses produtos?
RP – O BAO tem essencialmente as contas à ordem e contas poupança, mas também existe uma conta que visa essencialmente captar poupança dos guineenses na diáspora. Denominamos este produto de BAO Emigrante, no fundo é uma conta poupança que permite o emigrante fazer a sua remessa de fundos para a Guiné-Bissau. Constituindo a sua poupança num espaço de cinco anos, em função do valor arrecadado durante o referido período, o emigrante pode ter acesso a um crédito. Referimo-nos neste caso a um crédito à habitação, porque constatamos que muitos emigrantes, enquanto estão no estrangeiro, enviam regularmente fundos para construir uma habitação. A conta, BAO Emigrante, permite a pessoa fazer a sua poupança no país e com esta poupança conseguir um financiamento do banco que lhe permite de facto realizar o seu projeto. Por outro, quem está na diáspora e tem uma conta em Bissau, através da internet-banking tem acesso à sua conta e pode fazer todas as transações que pretender, nomeadamente transferência de fundos entre contas internamente, transferir das suas contas fazer pagamentos de imposto, luz, água etc…
Além de mais com o cartão de débito que é um cartão Visa pode fazer transações em qualquer parte do mundo que impactam diretamente à sua conta em Bissau. Portanto, não há diferença em ter uma conta no estrangeiro ou em Bissau.
P – Muitos clientes emigrantes guineenses queixam-se das dificuldades da comunicação da internet. O que BAO pensa fazer para superar essas críticas e dificuldades?
RP – Temos que reconhecer que a comunicação à nível da internet melhorou muito, mas é algo que também deve merecer atenção do Governo no sentido de incentivar ainda mais o investimento no setor da comunicação. Porque essa dificuldade advém daquilo que são serviços existentes, de vez em quando existem quebras de comunicação mesmo em algumas localidades do interior do país. Consideramos ainda que poderá continuar a melhorar para facilitar e garantir uma maior estabilidade a nível de comunicação para que não haja tanta interrupção. Mas de facto, a situação hoje não é comparável com há 10 anos, quando começamos a ter estes serviços que podem ser usufruídos a distancia.
P – Os emigrantes queixam-se quando estão na Guiné-Bissau não conseguem fazer movimentos nas suas contas do país de origem a partir dos seus cartões visas. O BAO tem solução para isso?
RP – O BAO tem solução para essa situação, porque faz parte da rede Visa, o emigrante que tiver o cartão Visa pode, através dos nossos ATM (caixas de pagamento automático) e através dos nossos POS (terminais de pagamento automático) fazer pagamentos e levantamentos de fundos que impactam diretamente nas suas contas no exterior. Hoje em dia o sistema bancário da Guiné-Bissau, diga-se, com uma forte participação e contribuição do BAO, não fica muito atrás do sistema financeiro bancário conhecido em qualquer um dos outros países da UEMOA ou do Ocidente.
P – O BAO naturalmente tem estratégias para aumentar a taxa de bancarização nacional?
RP – Sim, sem dúvidas e essa estratégia de facto consiste em redobrar esforços que tem sido feito até agora, levar os serviços de Banco através de novos canais, alargar os canais tradicionais que são redes e balcões tradicionais e fazer beneficiar de crédito bancário o maior número possível da população e isso só será possível com reforço de captação e continuidade no investimento que o Banco tem feito até agora.
P – O BAO tem um banco móvel que é uma novidade no panorama bancário do país, como é que funciona?
RP – É uma viatura preparada para o efeito, e que nos ajuda a levar os nossos serviços às zonas em que não temos balcões, nomeadamente nas zonas onde são realizadas as feiras populares, “LUMOS”. Essa agência móvel aposta nos serviços, nomeadamente, na recolha de depósitos e nos pagamentos aos nossos clientes e não só. Deslocamos por algumas cidades do interior do país sempre que haja necessidade, mas, é preciso realçar que deve haver vias de acesso que permitam que essa viatura chegue aos locais. Existem dificuldade de vias de acesso devido às más condições das estradas que permitam a viatura chegar estas localidades para realizar as suas tarefas e também existem, de vez em quando, muitas limitações à nível de comunicação para que a viatura funcione normalmente porque é equipada como uma agência normal e quando se faz operação nesta viatura é como se tivesse numa agência em tempo real e as operações são feitas em tempo real.
P – O Estado da Guiné-Bissau tem incentivado os funcionários públicos à abertura de contas para o pagamento dos seus honorários, o BAO está neste seguimento também?
RP – Sim, o BAO tem sido o Banco preferido dos guineenses, somos o Banco com maior número de agências e está em quase todo o país. De facto, nós temos domiciliado maior número de contas dos funcionários públicos, também porque, de facto, fazemos esforços para que os nossos serviços vão de encontro das necessidades dos nossos clientes. Penso que é por esta razão que temos merecido a preferência dos muitos funcionários públicos. E estes beneficiam como os outros clientes dos financiamentos bancários desde que tenham reunidas as condições e tenham acesso a todos esses serviços distribuídos por outros canais como acabei de referir.
P – O BAO está a completar 25 anos da sua existência, o banco vai realizar sérias atividades educativas dessa efeméride. Em concreto o que BAO vai fazer para os clientes?
RP – O BAO vai fazer mais do que habitualmente faz, vai fazer a divulgação da marca BAO, irmos ao encontro da população, dos clientes e explicar e desmistificar um pouco da perceção que as pessoas têm dos serviços bancários, porque alguns julgam que é só por alguns ou para os que têm muito dinheiro. O serviço bancário é para todos é esse trabalho que nós queremos fazer em termos de inclusão financeira, ir ao encontro dos nossos clientes, ouvir os nossos clientes e integrarmo-nos nas expectativas dos nossos clientes em relação aos nossos produtos e serviços além de outras atividades de cariz social, no fundo retribuir à sociedade guineense um bocado do que ela nos dá.
P – As suas últimas palavras.
RP – O Banco da África Ocidental foi constituído em 24 Novembro de 1997 por investidores institucionais e particulares, nacionais e estrangeiros. O BAO foi constituído inicialmente como um banco com vertente no financiamento de grandes projetos de desenvolvimento do país, nomeadamente, as áreas de infraestruturas portuárias, estradas, pontes, energia, telecomunicações, etc., tanto que iria trabalhar com o Governo nos seus projetos considerados prioritários para o desenvolvimento. Também o BAO iria trabalhar ativamente na mobilização de fundos externos dos potenciais investidores internacionais interessados em investir na Guiné-Bissau.
Entretanto, após o difícil período que o país conheceu entre 1998 – 1999 (conflito político-militar), o Banco apenas iniciou a operar em 30 de Março de 2000. Nesta altura, considerando que o sistema financeiro estava praticamente destruído e em grandes dificuldades, os acionistas do Banco decidiram que o BAO seria mais útil ao país naquele momento se pudesse prestar os serviços bancários de base. Ou seja, funcionar como um Banco Comercial tradicional, recebendo em depósito as poupanças da população, efetuar créditos, intermediar os serviços financeiros, tais como as transações financeiras com exterior, pagamento e recebimentos relacionados com importação e exportação de bens e serviços.
Quando o BAO começou a operar, os dois anteriores bancos em funcionamento no país BIGB e Totta & Açores – cessaram às suas atividades durante os anos de 2000 a 2002.
Desde então o BAO assumiu um papel determinante e fulcral na reconstrução do sistema financeiro Guineense, tendo efetuado investimentos contínuos no alargamento da rede de agências do Banco para assegurar que os seus serviços atingissem ao maior número possível da população, na modernização da Instituição através de aquisição de tecnologias modernas que permitissem acompanhar a atual evolução que se verifica nos serviços financeiros, na capacitação dos seus colaboradores, entre outros. Tudo isto para garantir a inclusão financeira da população e o desenvolvimento económico do país. E nesta tarefa não posso deixar de dar também uma palavra de agradecimento ao Banco Central, na qualidade de Regulador e Supervisor, que muito tem feito nessa caminhada, criando condições adequadas para o desenvolvimento da nossa atividade.