É difícil dizer que esta seja uma época feliz para a maioria do Povo Guineense, exceto para uns poucos privilegiados que vivem a custa do Estado (querendo portanto que este País continue assim como esta, totalmente desorganizado) e alguns detentores de um poder que não é poder – apenas um statu quo periclitante – que pode explodir a qualquer momento, outra vez, como já aconteceu no passado. E mesmo esses tais “privilegiados” e “detentores do poder”, não acredito que sejam felizes, pois se o forem nas atuais circunstâncias, então são apenas parasitas e não cidadãos íntegros.
Estes, muitas vezes, são pessoas que não desenvolvem qualquer atividade formal têm sempre uma ligação qualquer ao corpo político da Nação, e isto independentemente de quem esteja no poder no momento. Muitas vezes não têm nenhuma atividade política formal, se não gravitar a volta do “Poder”, marcando audiências, pedindo favores, mentindo aqui e acolá acerca de outros cidadãos, para cair nas graças de quem esta no comando no momento, etc.
São pessoas que fazem de uso do Estado e dos seus instrumentos meios para atingir seus fins pessoais. E como Guineense que sou – querendo ou não, “sofrendo” pelos acontecimentos quotidianos do meu País -, devo dizer duas palavras sobre estes últimos – Isto, independentemente da qualquer outro juízo de valor sobre a sua moralidade ou honestidade como seres humanos, mas como “políticos” que acreditam ser – Pois geralmente esses “parasitas” são da classe de “políticos” ou dos que pensam que o são.
É essa ânsia de estar sempre do lado vencedor ou de quem detém o Poder ou os cordelinhos no momento, que faz com que esses “políticos” ajam, estranhamente, como “saltimbancos”, saltando de um Partido Politico para outro sem nenhum problema de maior. Já vimos gente mudando de credo como quem muda de camisa, saindo do PAIGC para o MADEM, deste para APU, de APU para PAIGC, do PCD para PRS, do PUSD para este, deste para PRS, etc. só para dar alguns exemplos (e quando chegam a esses novos Partidos para onde transitaram nem são respeitados no geral)..
E depois, como se não bastasse, fazem o caminho inverso (como no passado saiam do PAIGC para o PRID, e depois do PRID para o PAIGC de novo ou para o PRS) como se fosse normal este comportamento, como se nada fosse, sem nenhum rebate de consciência, demonstrando a juventude que a Política no nosso País não passa de é um jogo, um jogo de poder, de ganancia, sem nenhum valor ou honra a preservar pelos seus intervenientes.
Demostrando aos cidadãos comuns que tudo o que dizem, afirmam e juram é pura falácia. São deles também a culpa por este nosso descalabro como País. Pois na verdade a responsabilidade da situação actual não é de lavradores, pescadores, empresários de verdade, exportadores de castanha de caju, de pescado, arquitectos, engenheiros, juristas, médicos ou de qualquer outra profissão, classe ou grupo social. E muito menos de uma determinada tribo em particular. Paradoxalmente, nem é dos militares (como um todo, como classe) ou dos narcotraficantes como é comummente dito e aceite por muitos. A culpa maior, já há muito tempo – se queremos chamar os bois pelos nomes – é quase exclusivamente deste “políticos” ou de uma certa classe de indivíduos que assim se intitula. Muitos deles descobriram, em boa hora, que quem não tem capacidades para mais nada na vida, pode “entrar” para (ou na) Politica e fazer disso uma profissão e um modo de vida. E este exemplo e modo de vida que transmitem as gerações vindouras.
Aqui poderia fazer uma diferenciação (como mandam as regras) dizendo “políticos sem escrúpulos”, e assim, dessa maneira, dar o devido desconto aos políticos que são honestos e estão na política por convicção e para servir este país. Mas não o faço propositadamente, pois esses são tão poucos que são exceção e geralmente nunca estão metidos em actos ilícitos e pouco abonatórios. E isso fala por eles mais do que qualquer “desconto” que eu possa fazer. Esses poucos cidadãos nunca estão envolvidos nesta permanente conflitualidade institucional que é alimentado artificialmente – por indivíduos, de quadrantes diferentes, com interessantes divergentes, mas sendo essencialmente de vistas curtas, incompetentes, antipatriotas ou simples bandidos (desculpem a dureza) que só conseguem viver e prosperar neste pântano feito por faits divers, de uma pobreza confrangedora quanto objectos de análise política, mas extremamente danosos para a estabilidade Politica e Económica do País, fomentando crises com comportamentos indecorosos, ominosos e criminosos. São esses indivíduos que há anos, não têm permitido o País mover-se em direcção à construção de uma Nação sólida e limpa na qual um ser humano decente gostaria e poderia de viver. Uma Nação onde se pode viver sem ser bandido, ladrão, corrupto ou criminoso.
Falo dessa gente, que são a nossa desgraça, porque se não soubermos como chegamos a este pântano, muito menos saberemos como sair dele.
Na verdade existem muitos criminosos que andam a assobiar tranquilamente pelas ruas das nossas cidades. Pois doutra forma, pergunto, de onde saiu esta selva em que vivemos? Feita de assassinos a soldo, de narcotraficantes, da própria escória humana, que conspurcou toda a nossa dignidade? A nossa simples dignidade de homens, para já não falar da nossa dignidade de Guineenses.
Pois não contentes em destruir a dignidade do pensamento e sentir Guineense, destruíram os fundamentos da nossa história, o orgulho nacional e a dignidade da nossa acção, impossibilitando-nos de agir em nossa própria defesa, como cidadãos e seres humanos.
II
Mas para clarificar o meu pensamento sobre a Autoridade do Estado, devo dizer que continuo a acreditar que nenhum País se desenvolve só por obra e graça de qualquer Governo, por mais “competente” que ele seja. E também já disse, e nunca é demais repeti-lo, que a autoridade e riqueza de uma Nação só podem resultar da sua “organização interna”, independentemente de qualquer riqueza natural que tenha ou deixe de ter. O progresso de qualquer Nação depende inteiramente da solidez das “ideias comuns” dos cidadãos sobre questões essenciais. As “Ideias Nacionais Comuns” que devem estar acima dos partidos políticos, organizações da sociedade civil, confissões religiosas ou – no nosso caso – as tribos.
Isso de um lado, do outro as pessoas devem estar preparadas para “mandar” / governar, mesmo que amparadas apenas na “força de vontade”, mesmo que apenas psicologicamente, já para não falar de genuínas e comprovadas capacidades técnicas e outras. Têm que acreditar profundamente no espirito da missão de servir e estarem habilitados para isso. Afinal até os Reis, que sabem de antemão que um dia vão reinar, são preparados para mandar / reinar. Pois independentemente do “direito divino”, têm que “terrenamente” saber trabalhar, para ajudarem o máximo possível o desenvolvimento do seu País.
Alguns acham que não é necessário ter nenhuma inclinação, dom especial ou preparação para Governar. É só fazer campanha eleitoral e dormir uns dias, como num “pic nick”, numa vila do interior ou numa tabanca, e a partir daí a Nação esta em divida com eles. E assim já podem ir cobrar a dívida ao Presidente (ou ao Primeiro Ministro) e serem membros do próximo Governo ou Directores de Empresas Públicas para as quais não têm nenhuma preparação. E claro, o prémio mais cobiçado é ser Ministro; de que Ministério? Isso não interessa muito, afinal as pessoas não são nomeadas pela sua competência técnica mas pela sua pseudo lealdade a alguém ou capacidade de “bari padja” (bajulação misturada com mentiras avulsas). O problema é que muita gente pensa que ser Ministro não é nada de mais, que é só “engenhar” (desenrascar); Ir ao “seu” Ministério (para fazer figura de corpo presente) sentar na secretária, mandar ligar o ar condicionado e olhar a correspondência para ver se há algum convite para uma viagem ao estrangeiro ou alguma coisa onde se pode ganhar um dinheirinho. Que basta fazer de vez em quando uns despachos e um ou outro discursozito em reuniões plenárias de técnicos, e já está.
E, estranhamente, muita gente acha normalíssimo esse nonsense e depois ficam admirados pelo País que temos.
Acham que para Governar basta respeitar algumas regras como por ex: “não roubar muito” e já esta. Estão redondamente enganadas: Não devemos orgulharmo-nos de pessoas que “apenas” não roubam ou roubam pouco; “não roubar” é o normal”, e não é nenhum mérito. O problema não é “não roubar” mas “não fazer nada” de positivo. A responsabilização deve ser sobre o facto de não fazerem nada de positivo enquanto governantes e com esse seu “absentismo” terem prejudicado o pais. Mas aqui a responsabilidade também é de deputados e outros agentes públicos.
Pois bem os Ministros e outros servidores públicos devem ser responsabilizados “por não fazerem nada” ou por não terem feito nada e não apenas pelo roubo ou desvios. Responsabilizados se pela sua incompetência, eventualmente, terem provocado dano ou mesmo morte de de cidadãos. Muitos de nossos compatriotas, durante anos e anos a fio, morreram porque alguns servidores públicos nunca “terem feito nada” que lhes competia. Assim morreram Por falta de água potável, por falta de tratamento medico, por falar de medicamentos, por hospitais degradados, estradas intransitáveis, epidemias de cólera e outros, por fome etc.
E por alguns Ministros e servidores Públicos, não terem nenhuma noção da sua responsabilidade direta ou indireta na morte de seus concidadãos, não os iliba, pelo contrário. O importante é saber que, durante anos, todas as desgraças nacionais – económicas e políticas – tiveram um fio condutor que ia directamente aos Gabinetes de pessoas concretas. E cada pessoa no seu tempo e no seu gabinete. Por isso quando falo de Ministros, refiro-me é claro, também a outros altos Responsáveis do aparelho do Estado.
Esses (irresponsáveis) responsáveis que deviam “ter feito algo”, mas não fizeram, na sua luta permanente pelos despojos do Pais, em que na verdade se consubstancia de uma maneira geral, o “fazer política” na Guiné, deveriam ter sido responsabilizados de uma maneira ou de outra e haveria menos luta para se ser Ministro ou coisa similar.
Se houvesse fiscalização dos actos dos detentores dos cargos públicos e do seu desempenho profissional eles seriam melhores tecnicamente e as suas decisões seriam melhores e cumpridos na íntegra.
Se houvesse uma fiscalização e responsabilização permanente haveria pouca apetência em lutar para ser Ministro. Mas para entender estas coisas a nossa mentalidade deve ser totalmente outra. Tem que haver nela um misto de amor a Pátria com alguma dignidade e respeito pessoal, no mínimo.
É este o caminho – acreditem no que vos digo – para o nosso bem comum. Só assim não estaríamos hoje a viver numa sociedade em que não há valores nenhuns, em que cada um defende os interesses do lado de que esta, custe o que custar, numa luta fratricida, independentemente de ser justo ou não, moralmente inatacável ou não, a sua posição ou lado. E nesta luta esquecem o essencial, o facto de que cada vez mais o País afunda, no caos, no descaso, na corrupção, nepotismo e todos males que toda esta folha não seria suficiente para enumerar. E cada vez que um lado ganha, herda um país um pouco pior, mais dividido e pejado de problemas que nem em vinte anos de Governação poderá resolver como já vimos.