Ministro das Finanças da Guiné-Bissau diz em entrevista à DW que os próximos tempos serão difíceis, por causa da Covid-19. O setor do caju vai ressentir-se, afetando 80% da população. Executivo pediu ajuda a parceiros.
Cerca de 80% da população guineense que depende diretamente da comercialização da castanha de caju vai sofrer consequências graves com a baixa do preço de compra do produto ao produtor, antevê o ministro das Finanças da Guiné-Bissau. Em entrevista exclusiva à DW África, João Fadia garante que a crise provocada pela pandemia da Covid-19 terá um “impacto muito significativo na débil economia” do país.
A Guiné-Bissau depende fortemente da compra e venda da castanha de caju, o maior produto de exportação do país. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma contração de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em comparação com uma perspetiva de crescimento inicial de 4,9%, antes do início da pandemia. Projetam-se perdas de cerca de 40 milhões de euros em pagamentos.
As autoridades guineenses pediram ao FMI um financiamento de crédito rápido. O país beneficiou entretanto de um alívio da dívida ao Fundo de 4,5 milhões de euros. O ministro João Fadia diz que esses e outros apoios permitirão “desafogar” as contas públicas da Guiné-Bissau: “Se [tivéssemos] que reembolsar essas despesas em dívidas, enfrentando ainda a crise da pandemia, não quero imaginar como seria o nosso orçamento”.
DW África: A que medidas financeiras está o atual Governo a recorrer para responder à crise económica e financeira provocada pelo novo coronavírus?
João Fadia (JF): O Governo da Guiné-Bissau está a trabalhar com um plano de resposta à pandemia orçado em mais de 13 milhões de dólares, apresentado aos parceiros, que prontamente aceitaram financiar esse programa. Já anunciaram esses apoios que ainda não estamos a utilizar. Por exemplo, o Banco Mundial, no âmbito de um projeto para área da saúde, já tem disponíveis cerca de 3 milhões de dólares. O Fundo Monetário Internacional avança com 5 milhões de dólares. Ainda hoje consegui um empréstimo concessionário junto do Banco Islâmico de Desenvolvimento no valor de 15 milhões de dólares, que também está destinado para o combate ao coronavírus. São esses montantes que contamos utilizar para enfrentar a pandemia.
DW África: Que impacto terá na economia da Guiné-Bissau a crise provocada pelo novo coronavírus? Quanto é que o país poderá perder em termos de receitas fiscais?
JF: Ainda não sei se teremos uma recessão ou depressão económica, mas a verdade é que teremos um efeito bastante negativo na nossa economia, isto temos que admitir. A Guiné-Bissau deveria, neste momento, proceder à recolha [campanha] para exportação da castanha de caju. Os produtores, que são cerca de 80% da população, têm castanhas disponíveis e não há compradores, porque os compradores são provenientes do Vietname, da China e da Índia, este último com maior preponderância. Constata-se que nestes países, por exemplo no Vietname, segundo informações que recebemos, algumas fábricas estão fechadas e outras em vias de parar a produção, o que significa que toda a África Ocidental que produz a castanha, nomeadamente a Costa do Marfim, o Senegal, a Guiné-Bissau, o Benim e a Nigéria, está com castanhas ainda por comprar. Isto terá um impacto muito negativo na economia. Nesta altura deveria haver contratos de exportação, o que ainda não temos. Não há compradores e as fronteiras também estão fechadas. Normalmente, os compradores vinham até a Bissau, agora não podem vir. A circulação do transporte marítimo está muito condicionada nas últimas semanas.