A detenção do Comissário Nacional Adjunto e Chefe de Operações do Ministério do Interior, Coronel, Júlio Sanca, por suposto envolvimento na movimentação de liamba, está a provocar agitação no Ministério do Interior. Os próximos do oficial da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) detido qualificam de falsos os fundamentos da detenção e suspeitam a existência de manobras do poder político com vista a ter um maior controlo daquela estrutura de segurança. Como forma de denunciar manobras de tramar o oficial, apontam um elevado número de erros e omissões cometidos até a detenção, pelo que advertem das consequências que possam advir, caso as pretensões do regime político se concretizarem.
O Ministério do Interior da Guiné-Bissau está mesmo numa situação explosiva, porque as cenas seguintes dessa detenção podem ser medonhas. Segundo os colaboradores de Júlio Sanca na PIR, o processo de detenção violou um conjunto de procedimentos, por isso, acabou por evidenciar as manobras em curso, para um maior controlo das estruturas operativas da segurança. Essas manobras estarão a ser levadas a cabo pelo ministro do Interior, Botche Candé sob orientação do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló.
Fonte do Ministério do Interior assegurou ao UH que, em regra, depois desse caso ter sido despoletado, o oficial paramilitar, se na verdade existisse a boa-fé e a transparência, não podia nunca passar pelas etapas que passou. Por exemplo, devia ser ouvido pelas estruturas internas ou no mínimo a Procuradoria Militar e não a Polícia Judiciária. E, mesmo se considerar o caso cível, na Polícia Judiciária, se tivesse de ser ouvido, seria alguém com funções de Director-Geral, ou no mínimo, o seu Adjunto.
“Não foi isso de grave que aconteceu. Júlio Sanca é um Coronel, e para ouvi-lo destacaram um simples técnico da Polícia Judiciária. Ficou preso nas instalações da PJ, nas condições que todos podem imaginar e vê os seus direitos a serem violados”, criticou a fonte.
Outra irregularidade que acham ter sido cometida, foi deter o Coronel logo depois da audição. Segundo os operativos da PIR, se não existisse outras intenções por detrás do comportamento do Ministério do Interior, Júlio Sanca podia receber ordens de suspensão das funções e ficar em casa, enquanto o processo corre seus trâmites.
“Ele é da PIR e está no Comissariado como Adjunto em Comissão de Serviço. Todos sabem que ele não vai fugir, porque o assunto não é de tamanha gravidade como se quer fazer. Mas, o que sabemos é que depois da audição, os políticos concertaram e decidiram orientar a PJ mantê-lo na prisão. Isso é inadmissível”, criticou.
A revolta na Polícia de Intervenção Rápida é enorme pelo que, a primeira decisão de alguns agentes era destacar um pelotão com vista a retirá-lo forçosamente das instalações da PJ onde já se encontra há cerca de uma semana.
A decisão não se concretizou, conforme apurou UH, porque o Comissário Nacional da POP, Tomás Djassi ao perceber do clima de revolta, terá abordado a corporação PIR no sentido de se manter tranquila, uma vez que o assunto estava ser tratado por canais próprios.
Para além de existir vozes internas que não acreditam no fundamento da detenção, alegado envolvimento na movimentação de droga tipo liamba, alguns acham que Júlio Sanca está ser traído por um regime que ajudou na sua edificação. O mais grave para eles, é que, depois do caso despoletar, as estruturas superiores do Ministério do Interior e da Presidência da República ignoraram-lhe por completo, porque existe um plano que pretendem concretizar.
Objectivo é ter um Comissário Adjunto aliado e ‘yes man’
O actual regime foi erguido em Março de 2020. O processo começou com a autoproclamação de Umaro Sissoco Embaló como Presidente da República e consequentemente derrubou o Governo de então, para instalar o actual. Mas para que tudo isso fosse uma realidade, alguns elementos das forças de defesa e segurança interviram. Um dos nomes considerados activos no Ministério do Interior nessa intervenção para desalojar o anterior regime, é Júlio Sanca na altura, acompanhado pelo já falecido Bion Na Tchongo. Ambos, segundo apurou UH, para neutralizar a então estrutura dirigida por Armando Nhaga, foram prometidos funções na altura no topo do Comando da Polícia. Coincidência ou não, a verdade é que, depois de se concretizar a instalação do poder, Bion Na Tchongo foi nomeado Comissário Nacional da POP e Júlio Sanca, seu adjunto. Bion Na Tchongo faleceu em circunstâncias que a família continua a questionar e neste momento o seu então adjunto está abraços com um processo considerado pelos seus próximos como sendo falso. Os Comandados de Júlio Sanca na PIR já concluíram: há uma intenção de afastá-lo como Adjunto Comissário e colocar nas funções quem vai aceitar todos os desmandos do sistema. “Há uma intenção do poder político controlar o Ministério do Interior. Isso começou há muito, mas nos últimos tempos, dois elementos são mais evidentes. O afastamento de Mário Fambé como Secretário de Estado da Ordem Pública e agora este caso inventado do Adjunto Comissário e que certamente vai culminar com o seu afastamento nas funções. Não querem na estrutura, uma figura que esteja a altura de acompanhar as movimentações. Mário Fambé é militar e não podia nunca ser enganado ou submetido. Júlio Sanca, igualmente alto oficial da PIR, não podia ficar nunca de fora de alguma estratégia no Ministério. Essas duas figuras incomodam o regime político e tinham que ser afastadas”, referiu.