Pela primeira vez, desde a sua detenção há mais de três semanas pelos militares golpistas, sem receber qualquer apoio médico, visita de família ou contacto com os advogados, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, e outros membros do seu partido, bem como o dirigente político do PRS Roberto Mbesba, que é membro da direcção de campanha de Fernando Dias da Costa, receberam, ontem, uma visita da delegação da Igreja Católica em Bissau.
À saída do encontro, Dom Victor Luís Quematcha afirmou que a delegação encontrou os detidos em boas condições físicas, embora a prisão não seja um lugar ideal para ninguém, como relata a imprensa local.
A delegação episcopal foi liderada pelo bispo emérito de Bissau, Dom José Câmnate na Bissign, e integrou o bispo de Bissau, Dom José Lampra Cá, o bispo de Bafatá, Dom Victor Luís Quematcha, o Vigário-Geral da Diocese de Bissau, padre Davide Sciocco, e o padre Domingos Cá.
Os prelados foram recebidos pelo ministro do Interior e da Ordem Pública do Governo de Transição, brigadeiro-general Mamasaliu Embaló. Logo a seguir à saída dos bispos, uma delegação das Nações Unidas também visitou os detidos.
A Igreja Católica tem mantido contactos discretos com diferentes actores da crise política, numa tentativa de promover o diálogo.
Fernando Dias ainda na Embaixada da Nigéria
Contactado pela RFI, o advogado de Domingos Simões Pereira e de Fernando Dias – Maître Saïd Larifou, diz estar optimista quanto à futura libertação dos seus dois clientes.
Quanto a Fernando Dias, ainda sob protecção na Embaixada da Nigéria em Bissau, o advogado Saïd Larifou garante que está “física e psicológicamente bem, convicto e determinado”.
Num comunicado publicado quarta-feira, a directoria de campanha do candidato Fernando Dias “congratula as decisões da CEDEAO e da CPLP”, que apelam ao reconhecimento da validade das eleições de 23 de Novembro, mas, “lamenta o facto de estas organizações não se pronunciarem sobre a divulgação dos resultados”.
No mesmo documento, a equipa de Fernando Dias “apela às forças armadas republicanas a abandonar o poder político” e a “evitar o agravamento da crise política, económica e social”.
Parlamento Europeu pede libertação de opositores
Numa resolução, aprovada ontem por 500 votos a favor, nenhum contra e 42 abstenções, os eurodeputados apelam, no documento, a uma investigação independente das “violações generalizadas dos direitos humanos e à responsabilização dos autores pelo golpe” de 26 de Novembro, três dias após as Eleições Gerais no país.
Exigem também “a libertação imediata e incondicional dos líderes da oposição política” e condenam “o uso desproporcionado da força pelas forças de segurança contra a população”, segundo um comunicado do Parlamento Europeu.
Os deputados querem que a Comissão Eleitoral publique os resultados eleitorais “verificados sem interferência militar ou política”. O Parlamento insta a União Europeia a rever imediatamente os seus acordos e financiamentos, de modo que “não reforcem a junta ou outras estruturas autoritárias”, e que o Conselho Europeu pondere “a imposição de medidas restritivas aos responsáveis pelo golpe de Estado e pelas violações dos direitos humanos”.
As Eleições Gerais, presidenciais e legislativas guineenses decorreram sem incidentes, a 23 de Novembro, mas, na véspera da divulgação dos resultados oficiais, um tiroteio em Bissau antecedeu a tomada do poder pelo Alto Comando Militar, que nomeou como presidente de transição o general Horta Inta-A.
O general anunciou que o período de transição terá a duração máxima de um ano e nomeou como Primeiro-Ministro e ministro das Finanças Ilídio Vieira Té, antigo ministro de Sissoco Embaló.