O reencontro recente entre o presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, e o dirigente político Braima Camará, em Lisboa, confirmou publicamente uma reaproximação entre os dois antigos aliados. O encontro, inicialmente discreto, acabou por ser intencionalmente divulgado nas redes sociais ligadas ao círculo presidencial e poderá ter implicações directas na estabilidade da coligação pré-eleitoral Aliança Patriótica Inclusiva (API – Cabas garandi). O momento deu-se a 4 de Julho, no Hotel Tivoli, onde Sissoco Embaló estava hospedado.
Braima Camará deslocou-se até ao hotel para um encontro privado, durante o qual discutiram a actual conjuntura política e o possível regresso do líder político à Guiné-Bissau. Imagens e vídeo partilhado online mostraram um clima informal e aparentemente amigável.
No vídeo, ouve-se o presidente tratar Braima Camará por “coto”, termo em dialecto mandinga, equivalente a “mano”, ao que Camará respondeu com a saudação árabe “salamalekum”, seguindo-se um abraço entre os dois, entre risos.
Em crioulo, Sissoco elogiou o bom estado físico do antigo aliado e atribuiu essa aparência à sua passagem pela oposição. “. “Pop Cross… estás mesmo pop cross. Viram isso? É resultado da oposição. Está na oposição e está assim. Estás sã. Viu como é estar na oposição”.
Apesar do tom descontraído, Braima Camará respondeu com um sorriso de desconforto: “Como é que posso estar na oposição? Se…”, não terminando a frase e deixando pairar possíveis desenvolvimentos.
No seu regresso de Cabo Verde, onde participara nas celebrações dos 50 anos da Independência, o Presidente foi questionado pela imprensa sobre a reconciliação. Sissoco Embaló respondeu com ironia.
“O Braima Camará foi visitar-me. O Braima é igual a Botche. Têm ciúmes de pretensa. O Botche se me ver com Ilídio terá ciúmes. Todos eles querem aproximar-se de mim. O Braima foi visitar-me. Chamei-lhe de ‘coto’. Fizemos ainda uma conferência”.
Para o chefe de Estado, a relação com Braima Camará nunca foi totalmente rompida. “Nós é que fundamos o MADEM. Quando preparámos tudo, fomos buscar a nossa mãe, Satú Camará. Houve crise apenas seis meses e depois passamos a concertar. O Braima sempre disse que tem noção de Estado e não pode guerrear com o poder”.
A eventual integração da ala de Braima Camará, considerada a mais influente no MADEM, na Plataforma Republicana, que apoia a recandidatura de Sissoco Embaló, pode comprometer a estabilidade da API – Cabas Garandi, coligação que até agora representava uma das plataformas activas da oposição. Fontes próximas indicam que vários dirigentes da API não vão seguir os passos de Camará na reaproximação a Sissoco Embaló, o que poderá traduzir-se por uma cisão no seio da aliança.
A fotografia do reencontro continua a alimentar debates nas redes sociais e na opinião pública guineense, num momento em que as movimentações pré-eleitorais ganham intensidade.