Os militantes e dirigentes do Movimento Alternância Democrática (MADEM G-15) estão em guerra. No princípio da semana, o Coordenador do Partido, Braima Camará disse que está a ser traído e que existem pessoas que estão a fazer tudo para afastá-lo da liderança. Estas pessoas, ao sentirem dificuldades de removê-lo na liderança, começaram a falar do tribalismo e na possibilidade dos fulas criarem um partido político, porque são supostamente 40% na Guiné-Bissau. Por isso, ameaçou correr com fulas e mandingas mentirosos e tribalistas no MADEM-G15. Um dia depois de dessas afirmações, o Presidente da República Umaro Sissoco Embaló disse que não é ditador e que não acredita que o Coordenador do MADEM estava a referí-lo. Quanto a pretensões de afastá-lo no partido, Umaro Sissoco Embaló disse que o MADEM não é propriedade de ninguém, e que como Chefe de Estado, jamais permitiria a desordem naquela formação política.
O ambiente começou a aquecer com a divergência verificada no dia da reza. Braima Camará, um mandinga, é radicalmente contra a decisão de Umaro Sissoco Embaló, um fula em determinar que a reza fosse num dia diferente com o estipulado pelas organizações islâmicas. Braima Camará também é contra a carga policial desferida aos muçulmanos por supostamente rezarem numa sexta-feira, com agravante de acontecer recorrentemente numa das zonas em que o partido foi expressivamente votado. “Não podemos aceitar estas atitudes ditatoriais. E O MADEM não pode aceitar a ditadura na Guiné-Bissau”, avisou.
Na reunião da Comissão Política do MADEM em Bafatá (zona predominantemente muçulmano), Braima Camará prometeu que aquilo jamais irá acontecer e que, quem atrever a fazê-lo terá a devida resposta. Todas essas indirectas eram ou para o Presidente da República ou para o Ministro do Interior e em outras circunstâncias referia ao vice-Primeiro-ministro. A todas estas figuras em clara indirecta, Braima Camará chamou de traidores, porque lutou para que estejam no poder, mas agora estão a infernizá-lo a vida. A título de exemplo disse que foi ele arquitecto da vitória do PR e da instalação do actual Governo, mas contrário é que está fora a ver as pessoas a ganharem 20, 30 até 50 milhões em subsídios mensais, enquanto ele ganha os parcos 900 mil Fcfa como deputado da nação. As afirmações de Braima Camará, nisto de subsídio, são referência aos valores constantes no corrente OGE para os titulares dos órgãos de soberania.
“Mas não é isso o lamentável. Lamentável é que, apesar de estarem a viver bem a custa do partido, por ser ministros, presidentes e Directores-gerais, nenhum deles investe nada no partido. Eu é que vou investir de novo no partido. Isso não pode ser”, criticou Braima Camará, para revelar que gasta diariamente na solução dos problemas do partido, mais de um milhão de Fcfa.
“Acham que sou tolo? Para fazer tudo o que fiz para depois tornar-se num simples homem em Bissau a ver pessoas a terem casas, carros e tudo quanto precisam na vida? Isso não posso aceitar”, asseverou.
Camará revelou que, quando quis levantar estas questões para o debate interno, ditractores afirmaram logo tratar-se de um problema entre os fulas e mandingas no MADEM. “As pessoas chegaram ao ridículo de estarem a andar de um lado para outro com pretensões de criar um partido político, porque acham que fulas constituem 40% da população da Guiné-Bissau. Isso jamais irá acontecer no MADEM. Não ao Tribabilismo. O que vai acontecer é que vamos correr com fulas e mandingas mentirosos e bandidos no partido”, avisou sob aplausos.
O Coordenador do MADEM disse ainda nessas declarações que, quando decidiu reestruturar o partido, para ter uma equipa de trabalho, recebeu ameaças de pessoas que não fazem nada que, no dia em que tocar em Bafatá vai perder o MADEM. “Estou com vergonha de contar tudo o que estou a viver neste momento com este regime pelo qual lutei para a sua implantação. Posso assegurar que nem no tempo de Domingos Simões Pereira passei por isso”, lamentou.
“MADEM Não é propriedade de ninguém…”
Depois de dois ataques de Braima Camará, O Chefe de Estado reagiu. No empossamento do presidente do Tribunal de Contas, na segunda-feira (26), as declarações de Umaro Sissoco Embaló foram direccionadas em resposta à Braima Camará. Primeiro disse que não é ditador e que o Coordenador do MADEM devia esclarecer quem está a rotular, talvez seja o Governo. Depois considerou que o MADEM não é propriedade de ninguém e que como PR não vai permitir a desordem de ninguém e em nenhum dos partidos. Quanto a religião, Umaro Sissoco Embaló disse que o Estado é que manda e não são os imames competentes para determinar o dia da reza. Por isso elogiou a decisão do Governo sobre a data da reza. Chegou ao ponto de lembrar que, a policia de Mecca em tempos impediu o profeta Moamed de entrar na cidade e que Vaticano tem a sua própria polícia. “Tudo isso é para mostrar que o Estado está acima da religião. Quando as pessoas falam da religião devem buscar informações e ter conhecimento”, disse numa clara indirecta a Braima Camará.