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Polícia desfere carga contra a trabalhadores que opõem à impostos e subsídios abusivos e a UNTG promete que não ficará de joelhos

Desumano, violento e antidemocrático. Foi assim que muitos marchantes contra invenção e o aumento dos impostos, bem como atribuição de subsídios milionários aos governantes qualificaram o comportamento das forças de ordem que na manhã de hoje (14) (dispersaram à marcha convocada pela União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG) para exigir do Governo solução dos graves problemas que afectam a classe trabalhadora e os guineenses em geral. Júlio Mendonça, Secretário-geral da UNTG disse a imprensa momentos depois da violenta actuação policial que, “a luta vai continuar” e que, a lamentável via de confrontação escolhida pelo Governo, será aderida pelos trabalhadores, através de acções de rua, porque” jamais a sua organização ficará de joelhos para sustentar ou facilitar o crescimento das ditaduras. O Secretário-geral aproveitou ainda para esclarecer que não estão em qualquer negociações com o Governo com vista a suspensão da greve e que as afirmações do Primeiro-ministro, são semelhantes as que já fez no passado e que nunca surtiram qualquer efeito.  O Governo justificou a actuação policial com aquilo que chamou de “desobediência da UNTG” em avançar para a marchar sem “observar trâmites legais” e que a carga visava apenas “desbloquear a rua” e não para espancar ninguém. Existem ainda vozes que estranham o facto do Governo estar a cobrar imposto da democracia, mas não permite a marcha que é um exercício democrático.

Quando eram 8 horas e 40 minutos, alguns trabalhadores que responderam a chamada da UNTG concentraram a frente da sede daquela organização na baixa da cidade de Bissau, para marchar contra os “salário magro”, pagos aos trabalhadores, impostos abusivos estabelecidos pelo Governo no último OGE e o subsídios milionários pagos aos titulares dos órgãos de soberania. A medida em que concentravam os trabalhadores, as forças de ordem numa mistura de Polícia de Ordem Pública (POP), Polícia de Intervenção Rápida (PIR), Guarda Nacional (GN) e Polícia Trânsito (PT) também escalavam os seus homens.

A partida, alguns pensavam que era a forma de assegurar a marcha pacífica, para evitar que alguns infiltrados invadissem o espaço. No 1º piso da sede da UNTG, havia música para aquecer a manhã e animar os marchantes, enquanto a caravana não deslocar, ao mesmo tempo que alguns dos responsáveis dos sindicatos de base afiliados na UNTG lançavam palavras de ordem. Aliás, palavras que constam nos dísticos, a UNTG diz que marcha para exigir o respeito ao princípio e de igualdade entre os guineenses, como também desintupir a Função Pública.

Não era perceptível alguma provocação entre os marchantes e as forças de ordem, mas muitos olhavam para a presença dos mesmos com muita suspeita, razão pela qual consideram que, estavam ali a mando de “governantes corruptos”.

 

“Vocês não podem fazer à marcha”

Quando tudo parecia que a marcha estava pronta para partir (com um número insignificativo dos trabalhadores), os Comandantes das Operações lançaram algumas palavras para os manifestantes se dispersarem. Houve respostas em como não eram os polícias que deviam desconvocar a marcha e que tal devia ficar à responsabilidade da Comissão ou dos responsáveis da UNTG. No preciso momento dessas discussões, o pelotão dos jornalistas colocou-se a frente do cordão dos trabalhadores e uma viatura da PIR apareceu com seis homens todos encapuçados e com lanças-gás lacrimogênio. Essa força claramente de intervenção, foi escalada no perímetro que separa UNTG com o Hotel Malaika, enquanto que um outro grupo ficou na zona que dá acesso à Praça Chê Guevarra.

E foi esse último que atacou, com os primeiros três disparos dirigidos a cordão dos marchantes que tinha ocupado a estrada. Os disparos provocaram uma debandada total, incluindo os próprios polícias, que fugiam do local por não terem máscaras de protecção contra gás lacrimogêneo.

Quando os próprios agentes da Polícia começaram a fugir, o Comandante gritava para que regressassem e era possível ouvir os Polícias a questionar, como podiam, se não têm a protecção. Daí apercebe-se que, a ideia inicial não era atacar, ao mesmo tempo que, o segundo grupo que atacou, foi numa posição tacticamente errada. Mas apesar de tudo, atacou-se forte e feio. A medida em que aqueles que estavam na estrada fugiam, os agentes da Polícia dispararam alguns tiros de gás para o interior da própria sede, onde se encontrava o Secretário-geral, o seu staff e alguns marchantes que não podiam transpor o cordão policial.

Na tentativa de fugir e sem qualquer protecção, alguns responsáveis foram atingidos, ficando com sinais e gotas de sangue na varanda da sede da UNTG. O próprio Secretário-geral da UNTG, admitiu a imprensa que “quatro feridos foram transportados para o hospital”. Aqueles que não tiveram necessidade de serem evacuados, continuavam a tossir e a improvisar água para lavar a cara e nariz, até porque os efeitos de gases faziam sentir bastante.

Mas fora dessas afirmações, são visíveis os vestígios da actuação polícial na própria sede da UNTG com sinais de disparos de gás na parede e explosivos já sem pólvora juntados numa cadeira pelos organizadores.

Nas zonas da residência do ex-Presidente da República, José Mário vaz, os motivos da revolta eram outros. Maria da Conceição Gomes, uma senhora com cerca de 70 anos de idade, considera de inaceitável, o Governo autorizar o lançamento de gás lacrimogénio nas residências das pessoas.

“Isso não está bem. Não se utiliza gás nas residências e contra pessoas. Podia dar ordem de dispersão e acredito que eles iam sair, porque não são animais. Mas quando actuam desta forma, é porque querem matar toda gente. Eu estou em pânico, porque não sei o que pode acontecer a minha mãe e os miúdos que tenho lá em casa. Estão todos assustados e a tossir”, dizia a velha, num tom bastante crítico ao comportamento das forças de ordem.

“Socorram-nos! Estamos cansados neste país”, dizia no fim da curta entrevista com o Jornal Última Hora. Aliás, ela disse quer não tinha medo de dizer o que lhe vai na alma e que, como combatente da liberdade da pátria, jamais se inibiria de dizer o que pensa.

Era possível identificar na marcha figuras que inclusive não são funcionários públicos, mas que decidiram juntar-se a marcha como forma de apoiar a luta da UNTG e reclamar contra o aumento do custo de vida na Guiné-Bissau, consequência das medidas adoptadas pelo Governo na última lei do último Orçamento Geral do Estado (OGE), aprovado pelo parlamento e promulgada pelo Presidente da República.

 

“Este Governo reduziu salários aos trabalhadores”

Minutos depois de ser controlado os efeitos de gás no interior da sede da UNTG, o Secretário-geral dirigiu em jeito de conferência de imprensa, àqueles que ainda lá estavam. Nas suas declarações e num apelo a resistência, Júlio Mendonça considerou de ditatorial o comportamento do Governo, através da carga aos manifestantes. “Infelizmente lamentamos a postura dos agentes a mando do Governo. Infelizmente não perceberam que estamos num Estado de Direito onde as regras precisam de serem respeitadas”, começou por afirmar.

Ele disse que para a marcha, a UNTG observou todo o trâmite administrativo, dando conhecimento a quem deve ser dado. “Infelizmente fomos surpreendidos com este aparato policial. O mais grave de tudo, lançaram gás no interior da da nossa sede. Lamentámos o tão baixo nível de violação dos direitos fundamentais a nossa sede”, acrescentou, para alertar que, é chegado “o momento do povo tirar as suas ilações e lembrar que, o Estado guineense foi erguido com suor e sangue de muitos filhos desta terra”, mas que neste momento está a ser posto em causa. “As conquistas de muitas décadas, estão a serem postas em causa pelos actuais governantes”, denunciou o SG da UNTG.

Lamentando a situação ocorrida contra trabalhadores indefesos,  ele prometeu que acções de género não vão pôr em causa a luta da UNTG em defesa dos trabalhadores, porque estão a fazer uma luta justa para o bem do povo. “Os impostos que aumentaram; os subsídios milionários que pagam aos representantes dos  órgãos de soberania, são menosprezo e insulto ao povo. Mas o importante aqui é que o povo saiba que, se não lutar, vai continuar a viver na penúria”, alertou Júlio Mendonça. Ele garantiu que a UNTG vai continuar a fazer o seu trabalho e que foram feridas quatro pessoas.

Na mesma ocasião, ele revelou que no próximo dia 28 de Julho e que os actuais governantes lembrem que, no futuro não estarão no poder. “Os responsáveis dessa situação são o Presidenmte da República, o Primeiro-ministro, o ministro do Trabalho e o ministro do Interior. Foram os autores deste acto. Tinham consciência de que os actos que os agentes estavam a praticar viola a Constituição”, acusou.

 

“Não estamos em nenhuma negociação com o Governo”

Há duas semanas, o Primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Nuno Gomes Nabian, disse a imprensa que iria assumir o dossier das greves. No dia seguinte ele mesmo anunciou que a situação estava no bom caminho. Questionado o porquê de convocar as manifestações se estão em negociações com  o Governo, o Secretário-geral da UNTG foi peremptório em responder, que não estão em nenhuma negociação com ninguém.

“Nós convocamos esta manifestação  no quadro da celebração do 3 de Agosto, para contestar os nossos direitos que estão a serem violados. Isso é do conhecimento público e as documentações foram entregues devidamente. Só não compreende ou não aceita quem não quer. E os motivos da nossa reivindicação estão a serem sentidas pelo povo. Os impostos foram aumentados e os produtos de primeira necessidade aumentaram e escassearam. Infelizmente não há negociações com ninguém”, frisou para acusar o Governo de ter baixado os salários dos trabalhadores, coisa que, segundo disse, a lei não permite.

Lembrado que foi o PM quem, assumiu isso publicamente, Júlio Mendonça respondeu que não foi a primeira vez que Nuno Nabian faz promessa dessa natureza. “Não é de hoje. Já estamos habituados a ouvir isso. O importante é que honrem os compromissos assumidos. Aliás, até nós temos dificuldades sobre quem está a governar o país. Porque quantos despachos foram emandos pelo PM e não são cumpridos. Portanto que cumpram o que devem e parem com as promessas”, indicou. Disse que se isso não for cumprido a luta vai continuar e que a determinação da UNTG é para o país ser governado com base nos princípios.

 

“Não foi solicitada a autorização”

Em reacção as acções das forças de ordem, o Governo teve duas posições. Uma assumida pelo porta-voz do Governo, que disse que o que aconteceu foi a decisão de pôr ordem. Fernando Vaz disse que a Central Sindical não solicitaram qualquer autorização da marcha junto das entidades competentes. E acrescentou que, pelo facto da marcha ser algo perigoso, decidiram apenas impedir. As palavras do ministro foram refoirçadas pelo secretário de Estado da Ordem Pública, Alfredo Malú que, acrescentou que, a acção da Polícia não visava atingir ninguém, mas sim desbloquear a estrada, para facilitar a ciorculação. Ele critoicou o comportamento do Dsecretário-geral da UNTG que disse ser um advogado, mas que não conhece regras.

 

Reacção da UNTG

Reagindo a aquilo que chama de falsidades do Governo, a UNTG começou com a saudação que denominou de ‘Bem-vindo à nova ditadura policial da Guiné Bissau’. Na sua página oficial onde desmente as afirmações dos dois membros do Governo, a UNTG não só publicou as correspondências trocadas com o Ministério do Interior e a Câmara Municipal de Bissau, como tanmbém escreveu o seguinte: “normalmente os tiranos quanto mais pilham mais exigem, mais arruinam e destroem”. Na mesma publicação, a UNTG salienta que “assim como quanto mais lhes é dado, mais lhes é servido mais forte e frescos são para destruir tudo”.

“Mas se não lhes são dado nada e nem obedecidos permanecem nulos e derrotados e, transformam em nulidade tal como a raiz da árvore que não tendo mais húmus ou alimentos o ramo seca e a árvore morre”, lê-se na mesma publicação”

Para a UNTG, “os tiranos só são grandes, porque estamos de joelhos”, e remata com a promessa de que “a UNTG-CS nunca estará de joelhos”.

 

Sabino Santos

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