O Coordenador do Movimento Alternância Democrática Braima Camará concedeu uma entrevista alargada a Rádio África FM dia 8 de Junho para da situação política económica e social do país. Na entrevista, o Coordenador do MADEM disse que os três biliões de Fcfa que foi pago pelo tesouro público, se trata de um encontro de contas com o Grupo Malaika e as dívidas que o Estado contraiu com ele. Disse que não recebeu um único tostão. Sobre a situação política, Braima Camará diz que tudo está bem, mas acrescentou que não foi tido nem achado nas últimas movimentações feitas pelo Presidente da República Umaro Sissoco Embaló ligadas ao seu partido. Sobre o Presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira, Braima Camará disse que o principal objectivo daquele era matá-lo politicamente depois do Congresso de Cacheu. “Não conseguiu, porque tenho Deus do meu lado”, gabou-se. Disse que o actual regime pós a PJ atrás dele para investigar, porque recebeu o dinheiro, porque o terreno não são a sua propriedade. Mas sobre isso, afirmou que está a aguardar.
Foi uma entrevista no qual o nome do presidente do PAIGC dominou. Foram quase 90 minutos a falar de Domingos Simões Pereira e começou com o caso dos terrenos que foram pagos pelo Estado recentemente. Braima Camará começou por afirmar que, o que está em causa não é apenas um terreno, mas sim dois, citando as suas localizações. “Lamento que as denúncias do terreno não me pertencer saírem da boca de Domingos Simões Pereira. Custou-me acreditar isso. E quando ele diz que o Estado compra um terreno que sempre lhe pertenceu. Vergonhoso, porque, mesmo tendo divergências políticas, não podemos rotular uns aos outros, o que não corresponde a verdade. Portanto, eu estou aqui defender a minha honra e a minha família”, começou por referir.
Depois disse que comprou o terreno em hasta público onde participaram vários empresários. “Muita gente queria esse terreno, porque era o maior a nível do país. Eu e AREZKY fomos os únicos a concorrer. Fui buscar empréstimo no Totta&Açores. O administrador do Banco de então deu-me garantias. Fomos concorrer. E sempre que Tarek Arezky pagava um preço, eu pagava 1 Fcfa a mais. Ele ficou irritado desafiou ao banco a ficar com o terreno. Foi assim que paguei depois”, explicou.
Disse que, depois dessa compra o presidente do PAIGC então ministro da Equipamento Social colocou uma placa alegando tratar-se de uma zona húmida que não podia ter qualquer construção. Explicou ter exigido que o devolvessem o dinheiro que pagou na hasta pública, tal como aconteceu no terreno sito na zona de Enterramento perto de Stenacks. “Nunca fui para o Tribunal, porque tinha deus ao meu lado. Fez-se justiça”.
Sobre receber o dinheiro, ele assegurou que, quando soube em 2015 que o Governo queria pagar os empresários, ele questionou e o Director do BAO obrigou que o seu nome fosse incluído e nessa altura pagaram-lhe 1 bilião de Fcfa. “A minha dívida de 2,5 biliões de Fcfa caiu para 1.5 biliões de Fcfa”, sublinhou.
Braima Camará disse que não recebeu o dinheiro, mas a empresa, enquanto sociedade. No fundo disse que receberam, porque os outros receberam carta de garantia. “Enviei carta ao Fadiá e disse que ia processar. Na altura pagaram Ian de Mavegro; pagaram Zaidan e eu não recebi. Não recebi. Houve encontros de contas tal como se pagou em relação aos outros. Foi isso que aconteceu”.
O Coordenador do MADEM assegurou ainda ter sido o único que salvava os empresários nacionais, tendo financiado a maioria deles para puderem comprar a castanha.
Na sua vasta entrevista, o Coordenador do MADEM afirmou que quando Domingos Simões Pereira foi demitido, José Mário vaz convidou-lhe e recusou, tal como recusou no 12 de Abril. “Só vou ser PM, se o MADEM ganhar”, garantiu.
“Temos que dizer não e combater a corrpção”
Quando foi colocado a primeira questão sobre a situação política, Braima Camará disse que tudo está bem e que Alberto Nambeia do PRS jogou um papel importante quando disse que nunca iria trair a aliança. Foi isso que permitiram-lhes aprovar os documentos. “Se não fosse Nambeia, da forma abusiva que fomos expulsos do PAIGC, não podíamos sobreviver politicamente. No caso de Nuno Nabian, acho que se o PAIGC deu-lhe tudo aquilo com 5 deputados, nós podíamos dar o que demos hoje. Regressou para nós, porque foi enganado pelo PAIGC”. Assumindo o sacrifícios para pôr Nuno Nabian, PM, Braima Camará criticou o comportamento do PAIGC não aceitar o MADEM depois das últimas legislativas. “Tive a carta branca para pôr o PAIGC na oposição e fiz o esforço e sacrifícios necessários. Hoje, o PAIGC está na oposição”.
Sobre o combate a corrupção, Camará afirmou tratar-se de uma luta para a dignidade, em que corruptos e corruptores não podem continuar a estragar. “Portanto em relação ao MADEM, basta existir suspeitas, obrigatoriamente tem de colocar o lugar a disposição. No entanto, assistimos as pessoas que, devido os seus interesses de banditismo político reclamam auditoria internacional para verificar eventuais desvios financeiros na Guiné-Bissau. Não é sério. Se na verdade as pessoas querem que se apure os principais motivos da corrupção na Guiné-Bissau, que se deixa trabalhar o Ministério Público, o Tribunal de Contas e até a Polícia Judiciária. É por isso que digo que, se o actual PGR não estiver em condições de investigar a corrupção, melhor é colocar o lugar a disposição”.
Falando de corrupção, o Coordenador do MADEM voltou a referir aquilo que chamou do maior crime financeiro na Guiné-Bissau, que foi a compra de carteira de dívida dos operadores económicos. Camará entende que, foi um erro o Estado negociar com os bancos no lugar empresários. “É como eu faço! Tenho os meus bens e o meu hotel. Quando quero dinheiro dou garantias aos bancos. Portanto reafirmo que o resgate foi uma enorme fraude. E o advogado Carlos Pinto Pereira tem a obrigação de explicar os honorários que recebeu antes dos trabalhos concluir. Os trabalhos não terminaram, porque o FMI travou aquilo”, afirmou.
“Nem tudo está bem”
Nos últimos tempos na Guiné-Bissau ocorreram muitas movimentações políticas onde o MADEM é considerado um partido descontente, tendo em conta que, os seus militantes saíram do Governo sem que o Coordenador fosse tido ou achado. Relativamente a uma pergunta nesta perspectiva, disse que Sissoco Embaló está a fazer algum trabalho. “Como líder de um partido, podia querer mais para o meu partido. Mas no cômputo geral, podemos dizer que Sissoco Embaló restituiu dignidade ao país. Quando correu com a CEDEAO, ele esteve bem. Foi uma decisão extraordinária e que orgulha todos os guineenses”.
Antes disse que não acredita que haverá cisão na interação entre os órgãos de soberania. No entanto, pede para que haja respeito ao princípio de separação de poderes. “Não quero que o PR penalize o MADEM porque é seu partido. Não queremos que os nossos quadros sejam penalizados em detrimento de outros”. Braima Camará não se opõe as nomeações que o PR tem feito, até porque não pode pôr em causa um decreto. “Ele pode nomear para à Presidência. Mas ele não pode tirar alguém no MADEM para fazer parte do Governo. Mas ele já pediu desculpas por estes três erros cometidos”.
Com Sissoco Embaló disse que existe divergências pontuais. “Se disser que tudo é mar de rosas é falso. Mas eu sou deputado e líder de um partido, pelo que não posso aceitar coisas que faz. Mas estamos a lutar para que o mandato dele ser bom”. Negou mal-estar com Marciano Silva Barbeiro e Soares Sambú. “É possível que num ou outro passo haja falha. Mas não são divergências. O que penso que devemos fazer é falar com os nossos seguidores para compreenderem. Vejo aqui que há muita intriga, muita hipocrisia política”.
Em parte aceitou falhas cometidas em certos momentos na gestão do partido, mas sublinhou que, a única solução era sofrer e guardar serviços. “Se dependesse de mim, nem o Abel da Silva, nem Nhima Cissé, nem Dara Fonseca, nem Conco Turé sairiam do Governo. Não estou nesta entrevista para omitir a verdade. Não fui tido nem achado nas últimas nomeações”. Apesar de tudo, afirmou que o MADEM vai explodir, porque sabem que é o que muita gente espera. “Os quadros têm razão. Exerceram num ou noutro momento, mas tinham razão. Porque eles bateram para o PR estar onde está, mas hoje viram aqueles que eram oposição ontem a beneficiar. Dói. Têm a minha total solidariedade nesse sentido”, frisou.